De onde virá o próximo choque deflacionário?

11/10/2021

Na última quinta-feira, compartilhei por aqui a visão mais otimista de Anatole Kaletsky, co-fundador da Gavekal, ao escrever o texto cujo título foi "Game On!". Na ocasião mencionei que Kaletsky classifica as preocupações "du jour" como exageradas, já descontadas, irrelevantes, etc.

O curioso é que sua visão de mercado é bem distinta daquela expressa pelo seu sócio, Louis-Vincent Gave, que é a principal fonte de inspiração do trabalho que desenvolvo por aqui. Louis vê a atual situação de escassez como algo estrutural. Algo que surgiu por razões que antecedem a pandemia. Mais detalhes relacionados a estas razões estão nos meus vídeos semanais MYCAP TENDÊNCIAS GLOBAIS.

No que diz respeito à dinâmica de mercado, Louis não está pessimista, prevendo um crash. Sua opinião está mais alinhada com uma expectativa de preços elevados por um tempo muito mais longo do que pensa a maioria dos analistas que vejo por aí. Neste sentido, é importante que o leitor entenda que ele acredita que o movimento de rotação setorial favorecendo as ações cíclicas é algo que está no seu início e que deverá perdurar.

Uma pergunta interessante, deixada em aberto pelo estrategista da Gavekal, é a seguinte: de onde virá o próximo choque deflacionário?

Nos últimos anos, sempre tivemos um choque deflacionário que, de certa forma, promoveu uma certa reorganização da economia global. Neste momento, entretanto, com os governos dispostos a injetar liquidez ad-infinitum, fica a dúvida se os governantes permitirão a ocorrência de um choque no curto prazo.


No gráfico acima temos o índice de preços dos EUA (CPI). Observe que sempre que tivemos uma crise no passado, a inflação caiu. No entanto, o momento atual parece ser bem diferente. Estamos em um mundo diferente. Um mundo dominado pela escassez. Um mundo em que há um processo de repressão financeira que levou milhares de investidores para a renda variável.

E, na ausência de um choque deflacionário no curto prazo, o mais provável que o CPI se mantenha elevado e que preferência dos investidores migrem para ativos cíclicos.

Marink Martins


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