De Steve Liesman para Jerome Powell

16/12/2021

Esta super quarta-feira foi marcada pela última reunião do ano do FED, seu anúncio e a já tradicional entrevista concedida por Powell. Ao responder as perguntas feitas por jornalistas, Powell se deparou com a seguinte pergunta feita pelo respeitadíssimo economista chefe da CNBC, Steve Leisman:

Considerando que os efeitos das decisões de políticas monetárias se fazem presentes na economia com um certo "lag" (um período entre causa e efeito) e que a economia vive um momento inflacionário, por que reduzir os estímulos gradualmente ("tapering") ao invés de simplesmente cessar de imediato a compra de ativos? (Aqui vale dizer que o FED vinha comprando 120 bilhões de dólares em títulos de tesouro e títulos hipotecários).

Esta foi, na minha opinião, a pergunta mais importante da sessão de perguntas e respostas ("Q&A"), e resultou em uma resposta que muito contribuiu para o "rally" registrado pelos principais índices de ações americanos no fim da tarde de ontem.

Disse Powell respondendo a Liesman:

Em se tratando de temas relacionados ao balanço patrimonial do FED, o comitê de política monetária prefere fazer as coisas de forma sistemática e gradual para não provocar um "agito" nos mercados. De forma mais próxima ao que realmente foi dito na língua original, Powell disse que qualquer movimento abrupto, no que diz respeito aos ativos do FED, poderia "roil the markets" (provocar o tal "agito" nos mercados).

Bem, meus amigos, foi-se o tempo em que a autoridade monetária buscava de alguma forma se mostrar independente dos mandamentos dos mercados. Foi só Powell mostrar esta preocupação com a estabilidade dos mercados que os investidores -- mais convictos do que nunca de que a PUT do FED permanece viva -- começaram a comprar com vigor as ações que vem exibindo momentum. E, nas últimas semanas, tais ações incluem as "Big 7": Apple, Microsoft, Google, Amazon, Facebook, Tesla e Nvidia.

Penso que Powell e seu comitê perderam uma oportunidade de desinflar esta bolha no mercado acionário que se manifesta através de um índice S&P 500 que já negocia com um P/L de Shiller de 40x -- um patamar só superado em um único momento na história: março de 2000 (ápice da bolha do Nasdaq).

Em um momento do Q&A, o próprio Powell chegou a mencionar que os preços dos ativos estão elevados. Em um passado distante -- lá em dez/1996 quando Greenspan soou o alarme ao mencionar a presença de uma exuberância irracional nos mercados -- os mercados reagiam de forma negativa imediatamente. Agora, a história é outra. Este FED é o "gift that keeps on giving" (uma dádiva sem fim).

Marink Martins


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