Desconfie de movimentos parabólicos!

08/04/2020

Uma característica muito interessante dos ciclos de valorização vistos nos mercados reside na observação de que o preço de alguns ativos tende a se mover de forma exponencial em seu estágio final.

Há diversas razões para isso. Excesso de confiança dos agentes, movimento de zeragem dos céticos e demanda adicional dos caçadores de tendência estão entre algumas razões que contribuem para uma compreensão deste movimento.

Não é à toa que, antes da atual crise, viu-se o IBOV subindo rapidamente de 105.000 para 119.000 pontos, e o preço de ações como MGLU3, VVAR3, JSLG3, WEGE3, IRBR3 e muitas outras disparar de forma exponencial. O mesmo ocorreu com o preço do Bitcoin no fim de 2017 e início de 2018. Acredito que poucos discordariam da afirmação de que movimentos parabólicos merecem sempre uma análise mais profunda e cautelosa.

Abordo este assunto para falar de um outro movimento parabólico que está em curso e que traz consigo repercussões em escala global. Refiro-me ao crescimento da relação dívida/PIB global.

Já temos contratados um significativo aumento no numerador (dívida) e uma nada desprezível redução do denominador (PIB). Com isso, a relação sobe de forma exponencial como se fosse o preço de uma ação do Nasdaq em 1999.

Ainda que muitos saibam deste fenômeno, poucos, de fato, param para refletir a respeito deste tema. Afinal, que dívida é essa? Quem é o devedor? Quem é o credor?

De forma resumida, os devedores são os governos! Quem são os governos? Bem, a resposta talvez seja: todos nós. Mas, observe que nem todo mundo é afetado de forma homogênea. Um pequeno grupo no mundo - aqueles mais endinheirados - possui uma estrutura de capital mais resiliente para enfrentar o fim deste ciclo de endividamento. A grande maioria, porém, será forçada a reduzir sua propensão ao consumo!

Isso, em si, traz diversas implicações. Dentre elas: uma importante redução nos múltiplos Preço/Lucro das ações.

E quem é o detentor destes títulos das dívidas cujo volume não para de crescer? Bem, dentre os principais detentores estão os fundos de pensão. E, dentro deles, a poupança dos trabalhadores. Você já viu rico dependendo de fundo de pensão?

Nos últimos anos, na busca por tentar compensar a repressão financeira provocada pela redução dos juros globais, os fundos de pensão decidiram correr riscos e passaram a adquirir cotas de fundos de private equity. Sim, são os próprios trabalhadores que são os proprietários de empresas como UBER, WeWork, AirBnB e muitas outras que ainda estão longe de saber o que é lucratividade.

Marink Martins

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