Diferenciando entre emergentes

19/02/2018

Na semana passada compartilhei aqui uma visão construtiva feita pelos analistas da Gavekal no que dizia a respeito aos mercados emergentes. Em um relatório publicado recentemente, eles afirmavam que o crescimento econômico americano combinado com a retomada cíclica europeia, expectativa de pouso suave na China e preços mais elevados para o petróleo contribuíam para um cenário extremamente benéfico para os emergentes. Tais mercados reagiram positivamente. Agora, entretanto, a famosa Casa de pesquisa retoma o tópico e faz um alerta: cuidado com o risco político na América Latina!

Tal alerta, para nós, brasileiros, pode até soar tolo, ou mesmo tardio, mas julgo ser importante pelo fato de estarmos surfando uma onda de otimismo cujo mérito advém mais dos países asiáticos do que de nossas conquistas em termos de reformas estruturais.

Na verdade, não temos conquista estrutural alguma. A nossa única vitória recente foi a redução do risco político como consequência da condenação de Lula em segunda instância. Nos últimos meses, do ponto de vista econômico, vivemos com um governo apático cujos esforços estiveram centrados em sua preservação no poder.

Por aqui, sabe-se que dispomos de uma enorme capacidade ociosa na economia e que isso tem contribuído muito para que os preços se mantenham em níveis baixos. Os juros caíram e há ruídos sobre a possibilidade de uma redução adicional em março. Mesmo assim, a curva de juros teima em manter-se inclinada.

Na verdade o mercado sabe que muito pouco foi feito para se resolver os enormes gargalos na economia brasileira. Não faz tanto tempo assim, (alguns meses após a última copa do mundo) eu estava organizando eventos corporativos pela ICAP cujo tema principal era determinar se haveria ou não um racionamento no Brasil. Um ponto importante é o seguinte: se este Brasil for, de fato, crescer, os preços subirão e não teremos SELIC abaixo de 7% de jeito algum!

Enquanto isso, lá na Ásia, temos economias fazendo uso de praticamente quase toda a capacidade instalada. Por esta razão, Louis Gave, CEO da Gavekal, nos chama atenção em seu relatório "Once in generation shift" que estamos diante de um possível fim do longo ciclo deflacionário iniciado nos anos 80. Caso isso de fato ocorra, veremos que uma importante parcela da margem de lucro obtida pelas empresas de tecnologia norte-americanas poderá ser transferida para produtores asiáticos. 

Dito tudo isso, julgo muito importante quando um importante centro de pesquisa global, como a Gavekal, vai a público e diferencia o que é "LATAM" e o que é "Emerging Asia". Creio que em breve tal diferenciação será cada vez mais discutida em outros fóruns globais e em canais como a CNBC.

Marink Martins

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