Dimensionando a crise energética na Europa

09/08/2022

Quão vulnerável está a Europa no que diz respeito à demanda/oferta de gás natural para o próximo inverno? O gás natural é uma importante fonte de energia, representando 20% da matriz energética do continente. Seu uso está associado não só a cadeia produtiva, mas também a geração de eletricidade e outros usos, como o aquecimento de casas e escritórios.

É importante destacar que o gás natural utilizado na Europa tem origem nas seguintes fontes:

1. Produção doméstica

2. Importações oriundas da Rússia

3. Importações de LNG através de navios

4. Redução dos tanques de armazenagem.

Em um ano normal (antes das tensões associadas à Rússia), a demanda é de 300 Tera-Watt-Hora durante os meses de verão. Já durante o inverno, a demanda cresce para 700 TWH. Ao manter um nível de importação constante, os europeus consomem mais durante o inverno e buscam aumentar os estoques durante os outros meses.

Recentemente, observamos os seguintes eventos:

1. Interrupção no fluxo de fornecimento do gás transportado pelo gasoduto de Yamal (aquele que passa pela Bielorússia).

2. Redução no fluxo do fornecimento do gás transportado pelo gasoduto Nordstream 1, de 48 TWH para 10 TWH.

Como resultado, observamos que o preço do Mega-Watt-Hora (MWH) subiu 350% em um período de 12 meses. Hoje, o preço do MWH na Europa está por volta de 193 euros/MWH. Se convertermos este custo para o equivalente em termos de 1 barril de petróleo, chegamos a um preço de aproximadamente 313 euros/barril. Um valor bem acima do preço do petróleo tipo WTI que vem negociando nos últimos dias abaixo de 90 dólares por barril.

Para termos uma melhor noção dos riscos contratados para o próximo inverno europeu, é importante entendermos a capacidade dos tanques de armazenagem da UE. A capacidade total de acordo GIE é de 1.111 TWH. No começo da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em fevereiro deste ano, os tanques europeus estavam vazios. No entanto, a região vem fazendo um tremendo esforço para enchê-los. Isso ocorre via maiores importações e também através da redução de demanda. Só na Alemanha, a redução na demanda está por volta de -22%!

Um detalhe importante é que o volume destes tanques varia bastante de acordo com cada país. A Alemanha, por exemplo, é responsável por 22% da armazenagem. Já a Itália, é responsável por 17,5%. Em seguida, temos os países baixos e a França com armazenagem próxima a 12%. Nos demais, os tanques são menores.

Nesta crise, a grande dúvida é a Alemanha. Apesar do racionamento que está em curso, há riscos de que o país poderá ficar sem gás já em janeiro/2023 caso o volume oriundo da Rússia seja suspenso. Mesmo que o fluxo siga no ritmo atual, especula-se que o país não terá como repor os estoques no fim do inverno de 2023 da mesma que forma que fez nos últimos meses.

Em suma, a crise deve ser encarada de forma séria. Como podemos ver no gráfico acima, mesmo que a Alemanha consiga atravessar o próximo inverno contando com um fluxo limitado vindo da Rússia, há muita incerteza quando se pensa em um horizonte de tempo mais longo.

Vale lembrar que a União Europeia possui população e PIB superiores aos registrados pelos EUA. Há riscos que não devem ser negligenciados.

Marink Martins


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