Dois gráficos e uma tese

21/07/2023

Acima, temos um gráfico ilustrando a performance em moeda local do principal índice de renda variável de diversos países a partir de janeiro de 2020 -- um pouco antes do início da pandemia. Como podemos observar, o índice da Índia, Nifty 50, se destaca com uma valorização de 62%. Não é de hoje que o país chama atenção dos investidores globais. Além de ter uma demografia promissora, que conta com um elevado percentual de jovens (potenciais consumidores), a Índia se tornou uma alternativa manufatureira à China. E, mais recentemente, nesta última "pernada" de valorização do índice, o país vem se beneficiando da capacidade de adquirir petróleo da Rússia pagando em sua própria moeda -- o que é uma situação muito convidativa em se tratando de um país que há anos carrega consigo uma vulnerabilidade do ponto de vista energético.

Em seguida, temos os índices Nikkei 225, do Japão, e o índice S&P 500, dos EUA. A combinação de ações negociando com múltiplos baixos e uma moeda depreciada vem se provando forte o suficiente para turbinar o índice japonês nos últimos meses. Já nos EUA, como se sabe, o recuo da inflação combinado com a percepção do surgimento de uma nova revolução tecnológica ("AI") vem dando conta do recado.

Ao olhar para o DAX, da Alemanha, e para o CAC 40, da França, observa-se que eles pararam de subir nos últimos meses. O ano de 2023 começou bem forte e empresas como a SAP (Alemanha) e LVMH (França) se destacaram se valorizando na onda da reabertura chinesa.

Por fim, e mais importante a tese que aqui busco expressar, estão os índices da China e do Brasil (IBOV). Ambos estão "flat" em relação ao mês de janeiro de 2020. No texto que escrevi ontem mencionei o salto no M2 brasileiro durante este período. No entanto, o que busco aqui transmitir vai além deste dado. Agora vamos ao segundo gráfico:

Já no gráfico acima, temos o gasto anual norte-americano com pagamento de juros de sua dívida fiscal (linha vermelha) em comparação com o gasto em defesa. Este gasto anual com juros se tornou a maior despesa orçamentária do país e está em uma ascensão assustadora. Em paralelo a escalada do endividamento do país, os EUA -- em seu ímpeto competitivo e receio de expansão de seu rival -- vem gastando bilhões de dólares em subsídios através de duas iniciativas que marcam o governo Biden: o "Inflation Reduction Act" e o "Chips & Science Act". Será que estas tentativas de trazer de volta aos EUA um setor manufatureiro respeitável e eficiente tem boas chances de se materializar? Há indícios de que a resposta seja negativa e as consequências possam resultar em um nível de inflação estruturalmente mais elevado.

Agora vamos a tese:

Considerando o fato de que o nosso IBOV encontra-se em uma tremenda defasagem em relação aos outros índices globais (isso pode ser atestado em relação a P/L, variação do índice/M2, variação do PIB nominal/índice, e outros aqui não mencionados), faço a seguinte pergunta:

Será que não estamos diante de uma nova fase, uma na qual países em desenvolvimento como o Brasil, poderão vir a incorrer maiores gastos fiscais sem que haja desvalorizações cambiais expressivas como no passado?

A minha tese se baseia em uma resposta afirmativa em relação ao questionamento acima. Dentre as razões a esta crença, posso citar a imensa deterioração fiscal norte-americana (segundo gráfico) e também o advento de uma maior corrente de comércio "desdolarizada". Sim, países como Brasil estão, aos poucos, comprando e vendendo commodities em outras moedas que não o dólar americano. E isso, de certa forma, tende a suavizar os ciclos econômicos.

Assim, maiores gastos fiscais devem contribuir para uma maior expansão do PIB nominal e contribuir para uma maior lucratividade corporativa na economia. Como o IBOV é um índice que tende a reunir as melhores empresas do país, penso que é uma questão de tempo para que possamos testemunhar uma expressiva valorização deste índice. Afinal, uma simples normalização do P/L da bolsa já seria o suficiente para alçá-lo a um patamar 30% superior ao nível atual.

Marink Martins

www.myvol.com.br