E a tal da deterioração da liquidez dos mercados globais?

18/07/2023

Durante os últimos meses, uma das tendências que explorei por aqui foi a tese de que -- tanto nos EUA como na Europa -- os mercados estavam sujeitos a contratempos devido a uma expectativa de deterioração da liquidez associada a determinados eventos.

Nos EUA, a expectativa era de que o Departamento do Tesouro iria "drenar" aproximadamente 500 bilhões de dólares em liquidez como consequência da necessidade de capitalização de sua conta corrente, conhecida como "Treasury General Account" (TGA). De fato, tal conta foi recapitalizada conforme podemos verificar no gráfico abaixo:

Nos últimos três anos, muito se falou a respeito do excesso de liquidez gerado pela atuação conjunta do FED e do Tesouro dos EUA. Como podemos ver acima, 2021 foi um ano em que o consumo da TGA coincidiu com uma forte valorização das ações nos EUA. Já em 2022, ocorreu o oposto: a TGA foi recapitalizada e o mercado caiu.

Já 2023 se apresenta como um ano atípico. Na mídia financeira todos os dias são apresentados gráficos ilustrando "quebras" de correlações entre importantes variáveis de mercado. Por que será que a mais recente recapitalização da conta TGA parece não ter tido efeito adverso no mercado de ações?

De acordo com Joseph Wang -- ex-trader da mesa de mercado aberto do FED de NY e conhecido por sua "newsletter" "The Fed Guy" -- o Tesouro dos EUA atuou com maestria nas últimas semanas. Ao optar por emitir títulos do tesouro de prazos bem curtos, o Tesouro conseguiu atrair a atenção dos fundos de "money market" dos EUA que deslocaram recursos depositados em uma "janela" do FED (conhecida como RRP) para investimentos em "treasury bills" (títulos de prazos curtos"). O grande receio do mercado era de que o processo de recapitalização da TGA resultasse em uma forte contração nas reservas bancárias dos bancos; algo que não se materializou.

E quanto ao cenário de liquidez na Europa? Por lá, a expectativa de deterioração da liquidez estava associada ao término de operações feitas pelo Banco Central Europeu ("BCE") conhecidas como TLTRO. Tal processo está em curso e já observamos indícios de que o mercado de ações europeu já não exibe a mesma resiliência vista no início do ano.

Na semana passada, reiterei por aqui o meu ceticismo em relação ao que está em curso no mercado de ações dos EUA. Dentre os argumentos que apresentei mencionei um rebalanceamento no Nasdaq 100 que irá reduzir o peso das 5 maiores ações do índice ("big techs"). Este rebalanceamento está marcado para ocorrer no dia 24/7. Ainda que já tenha sido amplamente discutido na mídia financeira, penso que tal evento não deve ser ignorado por investidores.

Vivemos um momento peculiar, com o mercado americano surpreendendo todos os dias. É tempo de divulgação de resultados. Vamos monitorando a cada dia.

Marink Martins


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