E se você investisse em bolsa somente no quarto trimestre de cada ano?

19/10/2021

Historicamente, o quarto trimestre do ano representa um período em que os retornos associados à renda variável tendem a ser relativamente superiores. A principal razão é certamente devido ao fato de ser um período subsequente ao pior mês do ano em termos de retornos: setembro. As razões para a "underperformance" em setembro são diversas. Aqui, entretanto, busco discutir este efeito de sazonalidade associado ao quarto trimestre.

Em se tratando de retornos históricos, tudo depende do ponto de partida. No gráfico abaixo, temos três linhas de retornos iniciadas em janeiro do ano 2000. A linha branca ilustra o retorno do IBOV, enquanto a linha vermelha ilustra o retorno do CDI. Já a linha verde ilustra o retorno obtido na renda variável caso o investidor carregasse ações somente durante o último trimestre do ano; durante os demais meses, tal investidor estaria investido em um título atrelado ao CDI.

A divergência de performance é interessante e impressionante. No entanto, conforme mencionado, tudo depende do ponto de partida. Ainda que esteja muito distante, tenho boa memória e lembro-me bem do ano 2000. Em março daquele ano as bolsas globais começaram a cair. Era o estouro da bolha do Nasdaq -- algo que foi mais intenso no meio do ano. Em 2002, os temores associados a possível eleição do Lula também derrubaram o IBOV no meio do ano. Todavia, talvez problemas de natureza econômica ocorram com mais frequência no meio do ano, e soluções, mesmo que parciais, mais para o fim do ano.

Vejamos o gráfico abaixo em que o ponto de partida para a análise ocorre em janeiro de 2015:

Neste caso, temos a comparação entre o retorno do IBOV na linha branca com o retorno obtido por aquele que investe somente no quarto trimestre e passa os demais meses investido em um título atrelado ao CDI. Aqui, a dinâmica é outra e também muito interessante. O investidor "buy & hold" -- aquele que simplesmente carrega posições compradas em ações -- caminhava muito bem até que veio o impacto associada a pandemia.

Concluo o texto argumentando que estamos em um período de profunda transformação -- não só tecnológica, mas, principalmente, demográfica. Os formadores de políticas econômicas convivem com um enorme experimento iniciado em 2008 -- o afrouxamento monetário ou "quantitative easing". Em 2018, o que era para ser um rally de natal, por pouco, não resultou em uma crise nas bolsas (Powell fez um meia-volta volver na política monetária dos EUA). Sendo assim, entenda essa análise como algo interessante, mas saiba que pertence ao passado.

Marink Martins

P.S. Agradeço ao Rodrigo Cortes da Avera Trading na preparação dos gráficos acima.


www.myvol.com.br