Eles estão falando de você!

23/06/2023

É Brasil, eles estão falando de você! Gostam do seu presidente do BC, de sua posição austera, e mais ainda dos 6% de juros reais oferecidos com baixo risco. Gostam da sua neutralidade geopolítica. Gostam também das oportunidades associadas a transição energética que começam a ganhar forma. Fala-se até em um cenário de mérito triplo -- um em que espera-se por valorização cambial, queda nos juros e reprecificação positiva dos ativos.

Na semana passada, em entrevista ao podcast Market Makers, Sandro Sobral -- diretor de tesouraria do Santander -- mencionou a ocorrência do que ele chama de "shy buying" no Brasil -- a compra de ações por parte de um grupo de investidores que a faz de forma constrangida e silenciosa, pois só agora estão acordando para uma realidade econômica um pouco mais convidativa do que aquela imaginada no início do ano. O leitor destes comentários certamente ouviu argumentos desta natureza em relação aos ativos brasileiros em um momento bem mais propício. Por aqui venho otimista com o IBOV por diversas razões. Uma delas é muito bem ilustrada pelo gráfico abaixo preparada pela equipe do gestor Tavi Costa, da Crescat Capital.

Não é de hoje que comento aqui que em janeiro de 2020 o nosso M2 era de 3 trilhões de reais e o IBOV estava próximo a 118k pontos. Hoje é de 5,1 trilhões de reais, com o IBOV praticamente no mesmo patamar. Não deve ser uma surpresa para ninguém que este "empoçamento" é uma função do medo e da busca por retornos excessivos na renda fixa.

Dito isso, há sintomas que me preocupam bastante no curtíssimo prazo. Observe que iniciei a semana te apontando para o fato de que o comportamento das bolsas após o vencimento dos contratos trimestrais do S&P 500 iria mudar. Algo que já está em curso. O S&P 500 parou de subir e já se retraiu um pouco. Ufa!

Agora, dentre as preocupações globais, te chamo atenção ao seguinte:

1. A taxa de juros de 10 anos da Inglaterra (10y Gilt) voltou ao patamar que "derrubou" a Liz Truss no fim do ano passado. O mercado parece estar ignorando este evento.

2. A inflação no Japão é a mais alta desta geração. Uma mudança na política monetária do BoJ poderá dar início a um movimento de repatriação de recursos, com ramificações globais.

3. A conta TGA (conta do Tesouro dos EUA) já está sendo recapitalizada. Seu saldo já subiu 200 bilhões de dólares; um claro sinal de que a liquidez dos mercados já não é a mesma.

4. Tudo isso ocorrendo em meio a um VIX inferior a 14%. Temos aqui uma situação em que o posicionamento dos agentes (muita gente comprada em derivativos) parece estar preponderando sobre uma deterioração de fundamentos macroeconômicos (liquidez global).

Por tudo isso, sugiro a investidores mais ousados, com horizontes de tempo de investimentos mais curtos, que mantenha o otimismo no Brasil, mas o faça consciente dos riscos globais.

Marink Martins


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