Eles têm a Nvidia. Nós temos a Pismo!

29/06/2023

Caso você ainda não saiba, a Visa anunciou a compra da "fintech" brasileira Pismo por 1 bilhão de dólares na noite de ontem. A notícia desta aquisição -- ainda que por um preço que é um milésimo do atual valor de mercado da "queridinha do momento" Nvidia -- está presente nas principais mídias financeiras. Li sobre a aquisição em um material da Datatrek que carregava um link direto para o outro site importante: o "techcrunch".

Talvez você questione a relevância desta informação e pense que nada irá mudar a cabeça do investidor estrangeiro em relação ao Brasil. Afinal, não é de hoje que o investidor estrangeiro olha para o país como um "trade" diretamente conectado aos preços das commodities. Todavia, se tem algo que aprendi em todos estes anos acompanhando os mercados é que, no dia a dia, o que importa são os movimentos marginais. Aqui, refiro-me não só a um determinado montante (liquidez dos mercados como um exemplo), mas principalmente no que diz respeito a percepções.

E é justamente uma mudança de percepção que vem fazendo com que, nos EUA, as ações da Microsoft registrem uma alta de 40% no ano enquanto as da Nvidia se valorizem em 180%. A novidade é a percepção de que inovações tecnológicas em relação a Inteligência Artificial irão turbinar os investimentos neste setor e tais empresas -- juntas com outras dezenas -- estarão entre as maiores beneficiárias de um novo ciclo de capex.

Não quero aqui, através desses comentários, te convencer que o investidor estrangeiro irá olhar para o Brasil de uma forma diferente. No entanto, se ele começar a olhar, já poderá ser um ótimo sinal. A todo momento há sempre um grupo de investidores focados em mercados emergentes que estão sempre "operando" os ativos brasileiros; faça chuva ou faça sol. O que precisamos agora é chamar atenção de outras classes de investidores globais para que eles comecem a comprar os ativos brasileiros através dos diversos ETFs globais que incluem ações brasileiras. E, neste sentido, uma notícia como esta aquisição feita pela Visa pode ser um bom ponto de partida.

Na semana passada, o Luiz Parreiras, da Verde Asset, ao falar do iminente ciclo de queda de juros no Brasil disse gostar da seguinte frase: "a bolsa opera o juro pelo jornal!" Em outras palavras, o estrategista disse que, ainda que a curva de juros já reflita uma tremenda redução de custo de capital das empresas brasileiras, a bolsa ainda não reflete tal movimento. Paradoxalmente, a alta na bolsa parece ganhar tração somente quando a queda da SELIC se materializa e é divulgada pelos jornais.

E assim seguimos reunindo uma informação aqui, outra acolá no intuito de ganhar confiança em um ciclo de alta no IBOV que começa a ganhar forma.

Por um outro lado, te chamo atenção também ao fato de que nos EUA as teses de ganhos de produtividade associadas a "AI" começam a ser questionadas. Além disso, ontem em Sintra, Portugal, Jerome Powell nos disse que a política monetária dos EUA está definitivamente em uma zona restritiva -- algo que deve perdurar.

Para finalizar, não devemos esquecer do efeito calendário. Faltam somente dois dias para o fim deste semestre surpreendente e é tempo de "enfeitar o pavão". O gráfico abaixo ilustra a expectativa de gastos por família norte-americana para o feriado do dia da independência que ocorrerá na próxima terça-feira -- dia 4 de julho. Os americanos estão "endinheirados" e gastando como nunca!

Marink Martins

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