Em tempos de engenharia financeira

15/07/2020

Charles Gave - um dos fundadores da casa de pesquisa Gavekal - nos diz que quando as taxas de juros são mantidas artificialmente baixas cresce o uso da alavancagem e da engenharia financeira.

No MyCAP Tendências Globais desta semana menciono o maior uso de SPACs (empresas de propósito específico para aquisições) e de fusões reversas. Estão aí dois usos que, embora não sejam necessariamente uma novidade, representam justamente o tipo de engenharia financeira discutido por Charles Gave.

Esta semana, aqui no Brasil, tivemos o IPO da empresa Abipar cujas ações se valorizaram 27% em dois dias. Uma parte dos recursos captados será usado para adquirir novas empresas. Embora a Abipar não seja uma SPAC, é, em parte, uma SPAC.

O leitor que me acompanha por aqui sabe que, lá em 2012, atuei na área de RI de uma espécie de SPAC brasileira; a Brasil Insurance Participações, hoje conhecida como Alper. Pois é, basta você ver o gráfico das ações da empresa para saber justamente o que eu penso sobre este processo.

Não é à toa que as SPACs são conhecidas em inglês como "blank checks corporations". Os investidores concedem a empresa um cheque em branco para que esta coloque em prática toda a sua inteligência em um processo de aquisição de novas empresas. Algo que na minha opinião é um sacrilégio.

Mas, é isso que sempre ocorre em tempos de juros baixos. O mundo embarca em um processo piramidal sustentado por narrativas cada vez mais sofisticadas. É uma questão de tempo para que muitas destas iniciativas colapsem, levando consigo a poupança suada de muitos investidores. No fim, eles culpam a SEC, a CVM, o FED.

Finalizo chamando atenção para o sucesso da captação feita pela Lojas Americanas - aproximadamente R$8 bi. Seria a LAME uma SPAC? Não! A LAME captou para enfiar R$3bi na lucrativa B2W e outros bilhões na sua nova iniciativa AME!!! Desculpem pela ironia em excesso contida neste texto!

Marink Martins

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