Encontro com Gavekal´s Arthur Kroeber: perguntas e respostas

16/03/2019


Por que os EUA não buscam resolver tais questões comerciais com a China no âmbito da Organização Mundial do Comercio (OMC)?

Kroeber respondeu com o seguinte questionamento: será que os EUA são parceiros confiáveis quando o assunto é OMC. Será que eles querem fortalecê-la ou destruí-la?


Como Xi Jinping irá passar uma narrativa de vitória se é aparente que a vitória é americana?

Kroeber começa reiterando que a imprensa não é livre na China. Dito isso, ele diz que o foco será dado a eliminação/redução de tarifas, seja ela feita de forma imediata ou gradual. 

Neste tema, o pesquisador afirma que considera a decisão de Xi Jinping de decidir se manter no poder por tempo indeterminado algo desestabilizador para o país. Nada que irá assombrar o país no curto prazo, mas que representa um problema no longo prazo. 


Sobre as perspectivas de longo prazo para a economia chinesa

Kroeber está mais otimista para os próximos 10 anos do que para um período mais longo. Ele vê o desafio demográfico como uma enorme barreira no longo prazo. Por isso mesmo acredita que é possível que o PIB chinês talvez  não supere o americano.  (se superar, deve ser por um breve período).

A vantagem tecnológica norte-americana é imensa e isso deveria fazer com que os EUA passassem a ser um pouco mais pacientes, mais estratégicos no que diz respeito ao embate em questão.


Sobre as consequências de uma eventual reversão quanto ao processo de globalização ("decoupling / unravelling of globalization)

Para Kroeber, não há dúvidas que caminhamos para uma maior fragmentação global. 

Sua maior preocupação reside justamente na percepção de que uma maior integração global funciona como uma espécie de seguro contra guerras.

O nível de integração global atual é bem mais intenso do que aquele visto no passado. Afinal, as cadeias produtivas encontram-se entrelaçadas.


Sobre a presença dos EUA na Ásia

(Este tema adveio de uma pergunta feita por um ex-embaixador presente no evento e foi ao encontro do que julgo ser o tema mais interessante nas questões sino-americanas.)

Sobre este assunto Arthur Kroeber disse que embora os EUA tenham dominado a Ásia apos a segunda guerra mundial, tais interesses já haviam sido articulados pela frente de soberania nacional norte-americana muitos anos antes. Tais interesses foram expressos através do desejo de domínio da primeira corrente de ilhas do pacífico (ver "Island Chain Strategy").

Kroeber acredita que o atual estágio, mesmo com as tensões presentes no mar do sul da China, é mais durável do que muitos pensam. 

Ele complementa que até os dias de hoje ainda há muita desconfiança na Ásia quanto ao Japão após tudo que foi feito durante a segunda grande guerra. 

Para finalizar, Kroeber compartilhou conosco sua maior preocupação ao fazer a seguinte pergunta:

Como se comportará os EUA diante de uma eventual invasão chinesa a ilha de Taiwan? 

Kroeber descarta esta possibilidade no curto prazo, mas que poderá se materializar em um período mais a frente. 

Aqui vale lembrar para aqueles não tão familiarizados com a história chinesa que na ocasião da revolução chinesa, o líder deposto pelos comunistas, Chiang Kai-shek, fugiu para ilha de Taiwan que passou a se chamar de República da China. Até 1971, a ONU só reconhecia uma única China e está era a República da China (Taiwan). Após a famosa visita de Nixon, a ONU finalmente passou a reconhecer também a República Popular da China. 

Com o passar dos anos, os avanços chineses fizeram com que os membros do partido comunista clamassem por uma única China. Taiwan passou a ser visto somente como um território chinês.

Marink Martins




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