Esconda seus ativos e desapareça

20/12/2017

No começo da década passada, em uma época em que caminhar por livrarias ainda era a melhor forma para se saber das últimas novidades, fiquei surpreso e curioso ao ver um livro na Barnes & Noble com o título acima ("Hide your assets and disappear). Ao folheá-lo rapidamente, pensei comigo: como podem tais ideias serem publicadas assim sem a menor censura? A sociedade americana é definitivamente ambígua; o amor à pátria certamente tem limites. E do ponto de vista econômico, há vantagens e perigos associados a toda esta liberdade.

Do lado das vantagens são nítidas as forças "schumpeterianas" de destruição criativa fazendo com que a sociedade avance. Do outro lado, entretanto, a liberdade de criação muitas vezes leva a criação de produtos que carregam consigo um potencial abusivo. Aqui, podemos mencionar desde produtos vendidos "over-the-counter" na rede de farmácias CVS à produtos associados ao mercado de capitais vendidos pela Charles Schwab. O mercado de balcão americano é definitivamente uma selva.

Quanto a parte tributária, tema do livro mencionado acima, as empresas americanas definitivamente foram em busca de uma estrutura tributária mais interessante, passando a registrar boa parte de seus lucros "offshore". Sendo assim, chegamos a um ponto onde a tributação média do setor de tecnologia é de aproximadamente 24%; bem abaixo do imposto corporativo de aproximadamente 35%.

A reforma tributária de Trump, aprovada no Senado na noite de ontem, é vista como a maior "mexida" no sistema desde os anos de Reagan. Críticos apontam para diversos problemas, incluindo o crescimento no endividamento nacional assim como para uma maior "pejotização" da sociedade. De qualquer forma, o mercado celebra e há muitos analistas projetando um lucro consolidado para as empresas do índice S&P 500 na faixa de US$150 para o ano de 2018. Um múltiplo de relação Preço/Lucro próximo a 18x; um pouco caro, mas longe de ser considerado uma aberração ou bolha.

O ano se aproxima de seu fim e a impressão que obtemos ao ouvir o noticiário norte americano é a de que dias melhores virão. Entretanto, se olharmos para a economia com mais cuidado, nos moldes sugeridos por Luigi Zingales, professor de economia da Universidade de Chicago, vemos que as iniciativas de Trump trazem consigo características populistas que se assemelham aquelas vistas no governo de Dilma Roussef em 2011. Em uma tentativa de continuar usufruindo do famoso "Efeito Riqueza" associado a valorização das ações das empresas americanas, Trump joga para torcida, reduzindo impostos e beneficiando grandes corporações. Legal mesmo seria se ele conseguisse promover tal reforma de uma forma que não resultasse em expansão do déficit nacional. Aproveitando a onda otimista, os republicanos aproveitaram para abolir também a neutralidade da rede; uma medida polêmica que tende a beneficiar grandes corporações como Comcast e AT&T. Bem, políticos são políticos em qualquer lugar do planeta. Por isso mesmo, Zingales nos alerta afirmando que na atual situação econômica norte-americana "what you see IS NOT what you get" (a realidade diverge da aparência).

Marink Martins, CNPI 

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