Tudo começa com um problema existencial que leva a um
sentimento de insatisfação. A partir daí atitudes unilaterais contribuem para
destruir uma espécie de cola invisível que, através da sua magia, fazia com que
1 + 1 fosse igual a 3.
É curioso que este efeito se faz presente em diversas partes
da vida. Seja através dos "gluons" no mundo da física ou através das sinergias no
mundo corporativo.
O fato é que Donald Trump é filho da crescente insatisfação
norte-americana. Insatisfação perfeitamente explicada pelo professor da
Universidade de Chicago Luigi Zingales, no evento anual organizado pela B3 em
Campos de Jordão durante o ano de 2017.
Trump não foi alçado ao poder para fazer a América crescer,
mas sim como uma reação defensiva daquele que, ao olhar-se através do espelho,
já não se reconhece mais. Está certo que isso não é um problema exclusivo dos
EUA, mas eles representam a parte mais importante de uma "máquina" que faz o
mundo econômico girar.
Dito isso, as diversas conquistas comerciais que contribuíram
para uma melhor condição de vida ao redor do mundo correm o risco de enfrentar
um possível retrocesso.
A transição do GAAT para o WTO, o surgimento do NAFTA, a união
europeia e o estabelecimento de uma moeda única, a entrada da China no WTO,
tudo isso contribuiu para um período de expansão econômica sem precedentes.
Só que Trump veio para brigar, para defender. Dizer que ele
está completamente errado é também ignorar que os EUA enfrentam problemas
internos sérios e ameaçadores.
No pós-guerra as tarifas que incidiam sobre produtos importados
pelos EUA caíram, em média, de 10% para 3%. Nas últimas décadas, através de
avanços tecnológicos e com a vinda da China ao mercado, a corrente de comércio
global cresceu a um ritmo que fora o dobro do crescimento do PIB global.
Chegamos a um ponto deste ciclo onde a população mundial está
prestes a descobrir que o ponto de sinergia máxima ficou para trás.
No que diz respeito aos nossos interesses no mercado de
capitais, devemos assumir uma postura defensiva. Grandes conglomerados como
Caterpillar, Boeing e outros poderão sofrer ataques especulativos caso as
tensões se agravem.
De imediato, devemos ficar atentos as negociações com relação
ao NAFTA. Caso tal acordo seja abortado, as repercussões tendem a ser extremamente
negativas para corrente de comércio global.
Neste sentido o preço do OURO passa a ser um importante
termômetro do que está por vir. Uma valorização desta que é vista como um ativo
de proteção indicará a direção para onde caminha o "smart money".
Marink Martins