Eu bem que te avisei...

05/02/2021

Tomo esta frase da música Telefone de Tim Maia para fazer um paralelo entre o momento atual e aquele ocorrido em 2007/2008.

Muita gente perdeu dinheiro na grande crise financeira de 2008. Já eu, perdi dinheiro e outras coisas que não tinham preço. No entanto, não faltaram avisos!

Como assinante da revista Bloomberg Markets, recebi em minha casa a revista -- cuja capa exponho abaixo -- e lembro-me, como se fosse hoje, da minha leitura a respeito das aberrações associadas às atitudes de bancos como HSBC, BNP Paribas e outros nos anos do "subprime".

Mas, como pode ocorrer uma crise em cima de algo anunciado?

Pois é, a crise financeira de 2008, se iniciou em agosto de 2007 provocando um baita choque para fundos quantitativos como o AQR, do famoso gestor Cliff Asness. Essa história foi contada brilhantemente por Scott Patterson em seu livro The Quants.

O problema é que os mercados se recuperaram rapidamente e voltaram a subir de forma expressiva.

No Brasil, as ações balançaram, mas, em seguida, registraram uma forte alta exponencial. Em março e abril de 2008, parecia que tudo iria dar certo. A Petrobras vivia a farra das descobertas de poços do pré-sal e fez sua máxima histórica em meio à crise (bem, o reconhecimento da crise vem sempre a posteriori). Da mesma forma, nos EUA, depois que o FED engendrou uma solução tranquila para quebra do Bear Stearns, só se falava em novas máximas.

#SQN... Não preciso relatar esta história novamente, pois todos já conhecem.

O meu ponto é que devemos tomar cuidado com esta recuperação que está em curso. Lançamentos de ações quase sempre terminam de forma trágica. Lançamentos de SPACs, nem se fala!

Pense no que é uma SPAC -- uma estrutura em que um gestor famoso leva uma empresa ao mercado sem que esta tenha que cumprir as diligências associadas a um típico IPO. Neste processo, tal gestor fica com 20% da participação da empresa adquirida. Esse modelo é fadado à desgraça.

O que ocorreu neste mês de janeiro (alta exponencial e o maior "short squeeze" da história) não deve ser ignorado de forma alguma. Curiosamente, em janeiro de 2008, também ocorreu um importante evento que balançou os mercados e que resultou em um filme. Estou falando aqui das peripécias de um ambicioso Jerome Kerviel que deixou um rombo bilionário no banco francês Societe Generale. Na ocasião, ninguém entendia por que o índice S&P 500 subia tanto, até que veio à tona as compras não-autorizadas de Kerviel.

2021 promete ser um ano muito longo para muitos. Mas, se você chegou até aqui, observe novamente a data da capa da revista acima.

Em 2008, uma combinação de ingenuidade e desespero me fez acreditar que Hank Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner não deixariam que bancos como Washington Mutual, Wachovia, e outros sucumbissem.

Hoje, ainda há quem acredita cegamente nas promessas de Guedes. Quase todos acreditam no poder do FED.

A história nem sempre se repete. Mas, pode ter certeza que, em caso de adversidade, aos perdedores ficará a voz de Tim Maia com as palavras:

EU NÃO TE PROMETI.... NADA!

Marink Martins



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