Na tarde
desta segunda-feira, em um momento em que o índice S&P 500 registrava uma
queda de aproximadamente 2%, Peter Navarro, que é protagonista no movimento
protecionista norte-americano, foi a CNBC acalmar os mercados. Em poucos
minutos, comunicou através da principal fonte de informações aos mercados, que
os EUA não cogitam impor restrições a investimentos chineses no país. Os
mercados rapidamente responderam e as ações se apreciaram.
É curioso
como o governo Trump busca a todo custo manter sua popularidade em alta. Diante
da dificuldade em obter apoio da população, o governo americano decidiu fazer
uso de um posicionamento extremista em diversas frentes e, em paralelo,
associar o comportamento dos mercados ao sucesso de sua administração.
Na tarde de
segunda-feira, o que Navarro fez foi reiterar uma mensagem já veiculada há um
ano por Steve Mnuchin, secretário do tesouro, de que a performance das bolsas funciona
como uma espécie de boletim de avaliação do governo Trump.
Tal
associação entre o comportamento dos mercados e o desempenho do governo é algo
que o deixa extremamente vulnerável em um ambiente de guerra comercial global
criado pelo próprio EUA.
Na última
sexta-feira, ao impor tarifas sobre a importação de US$200 bilhões de produtos
importados da China, o governo americano deixou os chineses sem a capacidade de
retaliar de forma similar, devido ao fato de o volume de importações de
produtos americanos na China não atingir tamanha magnitude.
Sendo assim,
especialistas especulam sobre quais serão as alternativas a serem utilizadas
pelos chineses nesta batalha que parece estar somente no início.
Alguns falam
sobre um "dumping" dos títulos do tesouro americano. Outros falam sobre uma
desvalorização da moeda chinesa.
Talvez, o
mais prudente seja fazer um pouco de cada alternativa.
Imaginem que
uma venda de 20% da posição chinesa em "treasuries" seja o suficiente para
manter a taxa dos títulos de 10 anos com rendimento próximos a 3%. Em paralelo,
uma pequena desvalorização do iuane pode parcialmente anular os ganhos
americanos sem maiores impactos ao sonho chinês de transformar sua moeda em uma
espécie de marco alemão asiático.
Mais
eficiente, entretanto, é uma estratégia que busca criar dificuldades para
empresas americanas atuando na China. Isso vai desde o boicote por parte de
consumidores chineses até a instituição de uma maior burocracia em termos
regulatórios.
Tudo isso,
se executado de forma estratégica, poderá ir, aos poucos, minando o "espírito
animal" responsável por um dos mais longos ciclos de alta da história no
mercado acionário norte-americano.
Nos últimos
dias, com o mundo sintonizado na Copa, pouco se fala a respeito da recente
desvalorização da moeda chinesa e da deterioração de seu mercado acionário. Ao
contrário do governo americano, a liderança chinesa pode se dar ao luxo de
ignorar o comportamento de seu mercado de ações.
Já o governo
Trump não pode dizer o mesmo!
E o que
dizer a respeito do impacto de uma "correção" da bolsa americana sobre os
mercados emergentes?
Tudo vai
depender do comportamento da moeda americana. Caso o mercado americano vá
perdendo força de uma forma amena, é possível que recursos fluam de volta para EM.
Por um outro lado, em caso de um movimento mais abrupto de "risk off", aí os
recursos tendem a buscar proteção no conforto dos velhos títulos do tesouro
americano, fortalecendo a moeda americana, e intensificando a dor dos
emergentes.
Para mais informações, assista ao mais recente MyCAP Tendências Globais abaixo: