"FED Liquidity"

07/07/2023

Acima temos o gráfico ilustrando o total de ativos no balanço do banco central dos EUA -- o FED. Sabe-se que este montante, que hoje está na casa dos 8,3 trilhões de dólares, era de somente um décimo deste valor no período que antecedeu a grande crise financeira de 2008. Como resposta à crise, Ben Bernanke tomou emprestado a prática de afrouxamento monetário (em inglês, "quantitative easing" ou "QE") praticada pelo Banco do Japão ("BOJ") e inaugurou nos EUA uma nova forma de combate a crise sistêmica: uma baseada em fortes injeções de liquidez no sistema financeiro.

Após uma série de "injeções" de liquidez (QE1, QE2, QE3), o total de ativos do FED atingiu o patamar de 4,5 trilhões de dólares no fim da gestão de Janet Yellen. Jerome Powell assumiu e tentou normalizar a situação ao estabelecer como objetivo trazer tal saldo para um patamar de 3 trilhões de dólares. Seu esforço, entretanto, provou-se desestabilizador ao mercado e, no fim de 2018, o FED teve que promover uma espécie de "meia volta volver", interrompendo o processo de redução dos ativos sem sequer chegar perto do objetivo inicial.

E aí chegou a pandemia e o FED -- em parceria com o Tesouro dos EUA -- perdeu a vergonha na cara e promoveu um dos maiores "abusos" monetários de todos os tempos. Está certo que outros bancos centrais (o Banco Central Europeu ("BCE") e o "BOJ") também abusaram. Assim, conforme podemos ver no gráfico acima, o total de ativos da instituição superou o patamar de 9 trilhões de dólares no primeiro trimestre de 2022. Coincidência ou não (eu penso que não!), o índice S&P 500 registrou sua máxima próxima a 4.800 pontos justamente no início daquele trimestre. O ano de 2022 foi extremamente doloroso ao mercado por diversas razões; dentre elas, o início do aperto monetário que até hoje se faz presente.

Ainda que o FED tenha flexibilizado sua trajetória em março diante do colapso do banco SVB, o fato é que a instituição já está de volta em sua tentativa de trazer o total de ativos da instituição para um patamar mais próximo de 7,5 trilhões de dólares.

Ao falar sobre a liquidez do sistema monetário dos EUA, é comum observarmos analistas fazendo a seguinte conta: Subtrai-se do total de ativos do FED o valor depositado na conta do Tesouro dos EUA (conta TGA) e o valor depositado em operações compromissadas reversas ("RRP" - que tem a ver com valores depositados em fundos de "money markets" que representam algo análogo a fundos DI brasileiros). Desta forma, temos a seguinte conta de liquidez:

Total de ativos do FED: 8.298 tri, TGA: 415 bi, RRP: 1.854 tri

FED Liquidity = 8,298 -0,415 -1,854 = 6,029 trilhões de dólares

Observe que, no dia 6 de março -- uma data próxima ao colapso do banco SVB -- a liquidez do FED estava em 5,772 trilhões de dólares e o índice S&P 500 estava em 4.072 pontos (aproximadamente 10% abaixo do nível atual).

Todavia, como já estamos cansados de saber, em se tratando do mercado de ações, deve-se desconfiar sempre de obviedades. Cientes do que estava por vir, muitos investidores decidiram apostar contra o índice S&P 500 e se deram muito mal. Afinal, Wall Street é uma fábrica de narrativas e, nos últimos 6 meses, emplacou uma das narrativas mais ousadas dos últimos anos -- refiro-me à "narrativa" associada aos iminentes ganhos de produtividade associados às inovações na área de inteligência artificial.

Mas e aí? O que irá preponderar neste segundo semestre? Será que o aperto monetário conduzido pelo FED conseguirá frear o "motor consumista" norte-americano? Te deixo com estas perguntas... Tenha um ótimo fim de semana!

Marink Martins

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