Hora de se preparar para o iminente ciclo de baixa nos EUA

20/05/2019

Na semana passada, em um dos mais importantes comentários que enviei para aqueles que acompanham o meu trabalho, eu disse: Hora de agir! Não hesite! O timing provou-se preciso pois o alerta foi disparado antes da abertura dos mercados da segunda-feira, em uma semana em que o IBOV caiu mais de 4.000 pontos e dólar subiu de forma expressiva.

Ciente do risco de incorrer nos mesmos erros cometidos por notáveis que tentaram fazer "market timing", prevendo um eventual colapso da bolsa americana, desejo te chamar atenção ao fato de que o risco de um movimento intenso de aversão a risco nos EUA vem crescendo de forma exponencial.

A ideia de que os EUA vivem os seus melhores momentos, do ponto de vista econômico, é uma narrativa Trumpiana que não se sustenta em lugares sérios como na Universidade de Chicago. Afinal, por lá, todos sabem que o PIB de um país equivale ao somatório dos gastos com consumo, dos gastos do governo, dos investimentos em capital fixo e do saldo da balança comercial. (PIB = C + G + I + X). E aqui, toda atenção deve ser dada aos gastos do governo, que não param de crescer, gerando um déficit anual superior a um trilhão de dólares em uma economia com um PIB de 20 tri.

No gráfico acima, observa-se que os ciclos de alta do índice S&P 500 coincidem com o momento em que o FED para de elevar a taxa básica de juros da economia ("fed funds"). Alguém ainda acredita em alta no fed funds para 2019?

Anos de falta de austeridade e juros baixíssimos contribuíram para um excesso de alavancagem generalizado, mas que desta vez se faz presente de forma mais clara, em diversas bolhas no mercado acionário.

Não estou falando aqui da precificação de ações de empresas do setor de tecnologia, mas sim, de empresas mais tradicionais como Visa, Mastercard, AON, e muitas outras empresas que, após anos de valorização, exibem uma relação de P/L projetado na máxima. É comum vermos esta relação se expandir no início de um ciclo econômico e se contrair mais próximo do fim. 

Observe que embora o preço de um determinado ativo não necessariamente reverta a sua média, a relação entre o valor da empresa (preço do ativo) e o seu lucro anual - essa sim - reverte. O meu ponto aqui é análogo ao que observamos entre o valor de um imóvel e a renda gerada por este através de aluguéis. O valor do imóvel pode triplicar, mas se o valor do aluguel se mantiver estável, algum ajuste eventualmente será feito para que um equilíbrio econômico seja restabelecido.

Nos EUA, a cada ano que passa, fica mais claro que o movimento de recompra de ações praticado pelas empresas tem sido o grande catalisador desta expansão de múltiplo de P/L discutida acima.

É possível que as empresas estejam recomprando suas ações por acharem que estamos diante de um novo ciclo expansionista que irá fazer com que os lucros cresçam substancialmente? Tudo é possível. Mas, isso é pouquíssimo provável, pois já há alguns sinais preocupantes na economia que, por alguma razão, a mídia financeira prefere ignorar. Abaixo, alguns destes sinais:

  • Cartões de crédito: as taxas de juros para as pessoas físicas estão nos níveis mais altos dos últimos 20 anos.
  • Financiamento de automóveis: nível de inadimplência alarmante.
  • Consumo: como percentual do PIB já começou a cair. As tarifas impostas por Trump só tendem a piorar o panorama.
  • Imobiliário: o percentual da população americana com casa própria acaba de diminuir.
  • Crédito estudantil: esse nem se fala... é uma história fadada a ter um final triste. 

Com o consumidor endividado e começando a apertar o cinto, como explicar o fato de que as ações da VISA que, no começo do ciclo negociavam a 20x o lucro projetado, hoje negociam a 33x?

No gráfico acima temos evidência de que os momentos de picos de oferta de emprego coincidem com o fim de um ciclo expansionista na economia. 

Por tudo isso, começo a semana afirmando o seguinte: É hora de se preparar para o iminente ciclo de baixa na bolsa americana! Como fazer isso? De forma bem simples, mantendo boa parte de seu patrimônio em ativos de ampla liquidez e de prazos curtíssimos. Utilize 20% a 30% de sua carteira de forma tática; isto é, sem comprometimento de longo prazo, estabelecendo STOPs.

Uma boa semana a todos,

Marink Martins

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