Impactos do assassinato do jornalista do Washington Post
Sabe-se que o preço do petróleo desempenha um papel análogo a um imposto global. Preços elevados fazem com que uma parte significativa da renda global seja transferida de países importadores para os exportadores do ouro negro.
Com a moeda americana como referência de reserva global, boa parte destes recursos acumulados em países exportadores de petróleo é reciclada no próprio EUA via comércio de armas e, mais recentemente, via aportes financeiros em empresas americanas.
Nos últimos anos os árabes foram responsáveis por injetar US$20 bn em um fundo de infraestrutura administrado pela gestora BlackRock. Mais impressionante ainda foi a rapidez pela qual eles investiram US$45 bn em um fundo administrado pelo Softbank que, por sua vez, investe em diversas empresas americanas como UBER, WeWork e Tesla.
O assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, é hoje visto pela mídia americana como o maior desafio geopolítico de Donald Trump desde que ele assumiu o governo americano.
Será que Trump agirá da mesma forma que Roosevelt agiu diante do líder da Nicarágua, Anastasio Somoza? Na ocasião das transgressões do líder latino, FDR, após "passar a mão na cabeça" de Somoza, uma vez disse: "he may be a son-of-a-bitch, but he is our son-of-bitch". (em uma tradução livre, "ele pode até ser um canalha, mas é o nosso canalha). Há semelhanças na relação atual entre Donald Trump e Mohammed Bin Salman (MBS).
No que tange os mercados de capitais, este evento se apresenta como um grande desafio.
Às vésperas do encontro conhecido como Davos no Deserto que ocorrerá no fim deste mês, diversos CEOs e representantes da mídia internacional cancelaram sua participação no evento.
Dependendo de como esta situação evoluir, é possível que o capital árabe tenha que buscar outros destinos, o que poderá representar um maior desafio ao mercado de "private equity" dos EUA, acostumado a financiar empresas deficitárias como a UBER e a WeWork.
Por mais distante que tudo isso possa parecer do mercado acionário brasileiro, observe que estamos diante de um período decisivo nos mercados de capitais. Estamos em um período marcado por uma elevação dos juros e do preço do petróleo - dois fatores que, historicamente, são responsáveis por ciclos de contração na economia.
Em duas semanas teremos as eleições do mid-term americano cujo resultado tende a influenciar a dinâmica do crescente endividamento dos EUA. Na mesma época, se inicia o período de sanção as importações de petróleo oriundas do Irã.
Neste contexto, a forma pela qual os líderes globais reagirão ao assassinato de Jamal poderá repercutir diretamente no comportamento dos mercados.
Marink Martins