Juros baixos nem sempre levam a uma maior alocação em renda variável

23/09/2019

Inicio a semana atacando a narrativa predominante que diz que o processo de queda de juros em curso irá promover uma significativa realocação de recursos em direção a investimentos mais arriscados como aqueles associados a renda variável.

Está certo que este processo contribui para uma queda nas despesas financeiras para empresas, pessoas físicas e governos. Contudo, é importante entendermos o porquê deste processo. Seria a queda de juros resultante de maiores ganhos de produtividade na economia local? Será que estamos conseguindo produzir mais com menos, de forma a gerarmos um superávit condizente com uma queda no custo do dinheiro?

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Infelizmente, esse não parece ser o caso. Os juros caem em uma tentativa de reverter uma deterioração no segmento manufatureiro que já afeta boa parte do mundo. Os dados são evidentes em países exportadores como a Coréia do Sul que, nos últimos dias, mostrou que suas exportações estão declinantes.

Observe que nos EUA, apesar da valorização das bolsas e da significativa redução na taxa básica de juros, os fundos de pensão reduziram o percentual alocado em renda variável de forma expressiva quando comparamos os anos de 2007 e 2018.

Curiosamente, vemos no Brasil uma queda semelhante na alocação destinada a renda variável durante o mesmo período apontado pelo gráfico acima.

No caso dos fundos de pensão americanos, especulo que houve uma busca por ativos menos voláteis. Observe que, durante o mesmo período do gráfico acima, o percentual alocado para fundos de "private equity" subiu de forma expressiva. Embora tais fundos sejam mais arriscados, por questões estruturais, a "marcação a mercado" destes ativos apresenta uma menor volatilidade do que aquela registrada por ativos listados em bolsa. Assim, os gestores de fundos de pensão podem sair em busca de maiores retornos sem colocar seus empregos em risco!

Por tudo isso, a mensagem aqui é que o processo de queda de juros, por si só, não garante uma maior alocação em bolsa. O que realmente importa é o diferencial entre retorno gerado e o custo de capital. Se o custo de capital cai como consequência da expectativa de que menores retornos estão por vir, então o processo não deve ser interpretado como estimulativo, mas sim como reativo.

Marink Martins

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