Mercados Interativos

04/07/2023

Mudamos o mundo a cada decisão que tomamos. Ainda que o impacto de uma ordem de compra de 100 ações seja bem diferente daquele gerado por uma ordem de 10 milhões de ações, os movimentos de preços dos ativos serão, para alguns, algo imprevisível; análogo a um passeio aleatório. Mas se aleatórios fossem os movimentos, não haveria tendência; menos ainda "momentum". E este, certamente, está longe de ser uma ilusão.

A literatura associada a "momentum" -- esta expressão tomada emprestada da física que aponta para uma intensificação de movimentos de alta e de baixa nos preços dos ativos ao longo de um determinado período -- é vasta e já premiou analistas como Gary Antonacci. Está no cerne de estratégias utilizadas pela gestora AQR, do famoso Cliff Asness.

De forma relativamente simples, Antonacci busca explicar o porquê da existência deste fenômeno através do gráfico abaixo:

Na visão do analista, há eventos catalisadores que provocam um distanciamento entre o preço de um determinado ativo e sua percepção de valor. Esta divergência ocorre ao longo de um determinado período e é descrita por fenômenos como ancoragem e sub-reação do mercado que tende a ser seguido por um outro fenômeno que pode ser descrito como empolgação das massas e sobre-reação. O assunto é fascinante e dele surgiram expressões que hoje se tornaram muito comuns nos mercados como "exuberância irracional", "FOMO - Fear of Missing Out" (medo de ficar de fora), e muitas outras.

Os avanços vistos na tecnologia associada à inteligência artificial em meio ao lançamento do "Chat GPT" seguidos da divulgação do resultado trimestral e dos prognósticos da empresa Nvidia formam um belo exemplo de tudo isso que busquei descrever no parágrafo acima. Testemunhamos um salto nos preços das "Big Techs" devido a uma rápida mudança na percepção de valor associada aos eventos anunciados.

Agora, quando unimos estes conceitos a novas tendências associadas à negociação de ativos e posicionamento dos agentes -- e aqui, me refiro ao maior uso de algoritmos e maior uso de derivativos de prazos curtos -- temos algo que é relativamente novo. Que os mercados podem exibir características irracionais por um tempo mais longo do que os agentes conseguem se sustentar é um conceito velho. O que está sempre se inovando são as formas nas quais os "mãos fortes" dos mercados "espremem" os demasiadamente "comprados" e "vendidos".

Tom Lee, estrategista da empresa FundStrat, está de novo na mídia financeira como um dos que mais acertou a tendência nos últimos meses. Seus argumentos apresentados -- tanto no início do ano, assim como os atuais -- estão associados ao posicionamento dos agentes. Tom acredita que ainda há muitos céticos neste mercado. Ele nos diz que, talvez pelos traumas associados a eventos como a grande crise financeira de 2008 e a pandemia de 2020 -- muitos agentes ficaram ancorados a teses catastróficas e, como consequência, os deixaram ancorados a processos de reversão à média.

Ben Carlson, autor da newsletter "Wealth of Common Sense", por sua vez, brinca que Michael Lewis (autor do livro que deu origem ao filme A Grande Aposta) é o responsável por fazer com que muitos investidores busquem de forma incessante um "contrarian trade".

O fato é que o lado técnico da precificação dos ativos -- algo que predomina numa janela de 6 meses -- vem sofrendo diversas modificações comportamentais, tecnológicas e psicológicas. Concluo com uma das frases que mais gosto: primeiro vem a ganância, depois o medo, e por último, a chamada de margem provocadora de capitulação. Erros ao estabelecer um tamanho de uma aposta que seja condizente com as expectativas e patrimônio do apostador é algo que certamente contribui para o que muitas vezes é classificado como "ruído" nos mercados.

Marink Martins

www.myvol.com.br