Proforma, Profano!

13/08/2019

Aqueles que me conhecem sabem que sempre suspeito de resultados pro forma. Se tais resultados fossem confiáveis, estes fariam parte integral da divulgação de resultados enviada à CVM. O fato é que nos ITRs publicados por empresas listadas no Brasil não há espaço para fanfarrices e EBITDAs ajustados.

Bem, ao analisar os demonstrativos financeiros do 2T19 divulgado pela empresa varejista Magazine Luiza S.A., temos a presença de alguns itens não-recorrentes que levam o investidor a conclusões perigosas. Você, provavelmente, irá ler na mídia financeira a respeito de um gigante salto operacional medido por diversas métricas. Observe que isso é coisa de um material chamado "earnings release" (assim mesmo, em inglês, para parecer sofisticado...). Eu mesmo já escrevi alguns destes na época em que atuava na área de Relações com Investidores da Brasil Insurance Participações - hoje com roupagem nova, atendendo pelo nome de Alper Corretora de Seguros (APER3).

Mas, vamos aos números da MGLU3:

Observe pelo DRE oficial registrado na CVM que as vendas, de fato, subiram de forma expressiva quando comparadas com as do 2T18. Entretanto, os custos subiram praticamente na mesma proporção, de forma que o Lucro Bruto caiu ligeiramente.

Já o Lucro Operacional - uma das medidas mais importantes para avaliar a saúde operacional de uma empresa - teria despencado se não fosse por um salto de R$180 milhões em "Outras receitas operacionais, líquidas". Devemos ficar sempre suspeitos quando algo que não é apropriadamente discriminado tem um impacto tão relevante. Para entender o que consta nesta linha é necessário ir nas notas explicativas e checar o itém 25 "b" e "c". Ali, vemos que se não fosse por tais itens extraordinários, o resultado operacional teria colapsado!

Agora, o que foi realmente surpreendente e espetacular foi o salto nas Receitas Financeiras. Estas subiram de R$39m no 2T18 para R$479m no 2T19. Entretanto, quando olhamos as notas explicativas, em busca de uma compreensão do ocorrido, vemos que houve um lançamento de um item não-recorrente, classificado como "Atualizações Monetárias" no valor de R$455 milhões. 

Assim, a presença de itens não-operacionais e não-recorrentes contribuíram para um Lucro Líquido que, de fato, saltou de R$141 milhões no 2T18 para R$387 milhões no 2T19. Um salto de 174% que, quando dividido pelo número de ações emitidas, resulta em um lucro de aproximadamente R$0,25 por ação. Anualizando tal número e ajustando pela sazonalidade do período natalino, o leitor impulsivo e precipitado poderá concluir que o resultado foi ótimo. Bem, não foi!

Naturalmente, devemos escutar o que a diretoria tem a dizer em sua "conference call" a ser realizada as 11:00 da manhã (horário de Brasília). Não tenho a menor dúvida de que a diretoria da MGLU3 nos fornecerá diversos dados construtivistas a respeito da expansão de seu omnichannel! 

Marink Martins  

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