Nada como um paradoxo

29/11/2017

Convenhamos que paradoxos são fascinantes! Nos colocam em movimento, tentando dar sentido a uma aparente contradição. Dentre os clássicos, existem dois que normalmente conto a minha filha antes de dormir, que são: O paradoxo de Zenão, aquele entre o herói grego Áquiles e a Tartaruga, e o paradoxo dos Gêmeos, aquele no qual um dos irmãos envelhece mais rápido do que o outro. Funciona que é uma maravilha. Gabi dorme nos primeiros 3 minutos...

No campo da matemática, da exatidão, alguns paradoxos são como obras de arte. Chegue em um bar um pouco mais cheio, com mais de 23 pessoas, e aposte com seu amigo sobre a possibilidade de que duas pessoas por ali comemorem seus aniversários em uma mesma data, e você, com conhecimento prévio do paradoxo do aniversário, terá uma bela vantagem. Agora, quando saímos deste mundo da exatidão para um mundo mais complexo, dominado pela subjetividade e pelo caos, como os mercados financeiros, muitos paradoxos as vezes são utilizados como instrumentos de marketing.

Mark Spitznagel, ex-sócio de Taleb e autor do livro The Dao of Capital, nos fala sobre o paradoxo do alto retorno e baixo risco, através de uma carteira arrojada protegida por contratos de opção de venda, em um vídeo no youtube (https://youtu.be/LyGtiiGBEc8). Algo que eu, humildemente, afirmo ser uma falácia e ser mais um instrumento de marketing para promover sua empresa. Digo isso pois, em nenhum momento ao longo do vídeo, o autor discute a respeito do elevado custo de carregamento de seguros por prazos longos. Spitznagel é um expert nesta área e sabe que o custo de opções fora-do-dinheiro tende a ser elevado devido a uma peculiaridade denominada em inglês de Skew. Mesmo assim, o máximo que podemos dizer é que, na média, tal estratégia é ineficaz.

E falar sobre médias em ambientes aleatórios também é fascinante! Uma estratégia pode ser ineficaz para a grande maioria, mas, se os resultados obtidos forem bem dispersos, é possível que algumas pessoas "brilhem", mesmo diante da adversidade. Não é à toa que crianças sonham em ser pilotos de fórmula 1, astronautas, artistas, jogadores de futebol, e muitas outras profissões onde o sucesso é a exceção. O que há em comum entre os exemplos citados é o que se chama de "survivorship bias" ou "viés de sobrevivência". Afinal, o cemitério dos artistas frustrados e dos jogadores de futebol não-remunerados está cheio; e ninguém fala dele.

Voltando para os mercados, nos dias de hoje, muitos julgam ser paradoxal que vivamos em um período marcado por baixíssima volatilidade em meio a tantas incertezas. Contudo, paradoxos nada mais são do que reflexos de nossa ignorância sobre um determinado assunto. A nossa própria ousadia e autoconfiança contribuem para a nossa perplexidade. Já quanto a baixa volatilidade, existe uma tese de que os maciços estímulos monetários dos BCs, algo que tanto venho falando por aqui, trouxeram consigo uma busca desenfreada por retornos que vem sendo obtidos através de operações estruturadas de venda de volatilidade.

Aqueles que acompanharam de perto a crise de 2008 e assistiram ao filme A Grande Aposta (The Big Short) mais de uma vez, provavelmente, se lembrarão de uma cena em que perguntam ao trader do Deutsche Bank (Greg Lippman) a respeito de quem seriam os compradores finais das fatídicas hipotecas (que, em breve, seriam conhecidas como "podres"). No que ele rapidamente responde: "people from Dusseldorf".

Sempre eles! No final, surgirão advogados reclamando que famílias alemães foram enganadas por banqueiros sem escrúpulos. Mas, na verdade, já há um condenado, mesmo antes da finalização do crime (este crime está em estado de "work in progress"): Mario Draghi.

Marink Martins, CNPI

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