Não basta ter dinheiro. Um gestor ativo precisa de estratégia!

23/05/2018

É fácil imaginar que tesourarias de bancos levam uma enorme vantagem na negociação de ativos devido ao fato de ter disponível "funding" barato e aparentemente ilimitado.

De fato, as tesourarias desfrutam de uma vantagem competitiva em termos de custos operacionais e acesso a informações, mas isso não é, de forma alguma, uma garantia de lucratividade.

Na segunda metade dos anos 90 tive a oportunidade de atuar na tesouraria do Banco Bozano, Simonsen que, em 1998, ocupou o primeiro lugar no ranking da Bovespa em termos de volume negociado.

Era uma época frenética. Não só o Brasil, mas o mundo mostrava enorme interesse em ações e ADRs da Telebras e títulos soberanos brasileiros (Os "C-bonds" e os "IDUs").

Por aqui, tesourarias de bancos como o Garantia, o Bozano, o Pactual, o Icatu, e alguns outros, muitas vezes travavam batalhas sangrentas na busca por ditar o rumo de preços de determinados ativos.

O curioso é que, durante um intervalo de tempo, uma ou outra instituição era vista como o grande "player" do mercado. No mercado de opções de Telebras, por exemplo, era comum dizer que a mesa do Garantia manipulava o preço do ativo base (ações da telebras) com o intuito de maximizar o lucro de suas enormes operações de borboleta.

Vistos de fora, os atuantes nestas tesourarias eram tratados como grandes estrelas, ou como o autor Michael Lewis os chamava no livro "Liar's Poker": "big swinging dicks".

Mas, para quem passou por ali, a história é bem diferente.

Quem leu o livro "Sonho Grande" obteve uma pequena amostra das adversidades enfrentadas pelo Banco Garantia em 1997. O mais influente entre os bancos de investimentos brasileiros da época, sangrou e, por muito pouco, não morreu diante do movimento de aversão a risco resultante da desvalorização cambial asiática naquele ano.

Lembro-me muito bem de um momento em que, atuando pela mesa do Bozano em Nova York, ficamos impossibilitados de colocar preços em telas (mercado de balcão - Eurobroker, GFI) devido ao risco sistêmico representado pela quasi-falência de nosso grande concorrente.

A adversidade de nosso rival deu um enorme "gás" ao Bozano que entrou no ano seguinte disposto a ocupar o lugar de principal banco de investimentos brasileiro. Convicto de que o pior já tinha passado, o banco aumentou sua alavancagem na esperança de obter lucros maiores e expandir sua presença global. Na época, o banco abrira escritórios em Londres e Hong Kong.

Mas, não bastava só ter dinheiro. Era necessário ter também uma estratégia de desalavancagem. O ano de 1998 foi horrendo para o banco, com prejuízo em diversas frentes. No segundo semestre do ano, de forma camuflada, o banco começava a se preparar para ser vendido para um banco estrangeiro.

Trago toda esta história com o simples intuito de ilustrar um conceito de antifragilidade muito discutido por Nassim Taleb em sua obra: Quanto maior for o tamanho do investimento (ou instituição) maior será a sua fragilidade.

Há muito o que se falar sobre este tema. Mas, não precisamos ir muito longe para averiguar tal afirmação. Basta olhar para a história do que hoje é conhecido como Citigroup. A instituição, uma das maiores do mundo, já quebrou 3x em sua história (Em 1929, 1981 e 2008). Porém, seu atributo de "grande demais para quebrar" o trouxe até os dias de hoje.

Saindo do mundo institucional para o mundo que habito hoje - o de gestor de carteira proprietária - devemos estar atentos às forças presentes nos mercados, respeitando o poder das tesourarias, mas ao mesmo tempo atuando de forma estratégica para tirarmos proveito de suas fragilidades.

Hoje, na "Live" que realizo diariamente, no âmbito do projeto "O Clube dos 5" junto a Inversa Publicações, irei discutir o conceito de "Powerhouse gamma-scalping". Um nome aparentemente complicado, mas que descreve uma forma de atuação comum entre as principais tesourarias de bancos.

Aproveito também para convidar você a participar de um encontro no dia 02/06 (sábado), em São Paulo, onde irei fazer uma apresentação sobre estratégias não-direcionais. Dentre elas, irei falar sobre "Hedging Dinâmico" com opções da Petrobras - estratégia na qual venho dedicando toda a minha carreira em seu aperfeiçoamento. O encontro é gratuito e você pode se inscrever agora clicando na imagem abaixo.

Marink Martins

Os últimos dois anos foram sensacionais para o investidor focado em ações de empresas norte-americanas. Abaixo, temos um gráfico de "Trailing Real Returns" do S&P 500 desde 1960. Este gráfico nos mostra o retorno real do índice em janelas de 2 anos.

Ainda que o momento atual não seja, nem de perto, um associado a uma crise financeira clássica, os últimos eventos deixaram muitos investidores "machucados". Afinal, no último mês tivemos 3 eventos que historicamente foram catalisadores para fortes valorizações das ações brasileiras. Refiro-me aos seguintes eventos:

Venho argumentando que, por trás do "rally" visto no preço das ações chinesas, há, dentre muitos fatores, um associado à rivalidade entre a China e a Índia. Explorei este tema em maiores detalhes neste vídeo que você pode acessar clicando aqui.

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