Navegando em mares revolto

Os índices caíram e a volatilidade subiu. Já vinha explorando estes cenários por aqui ao longo dos últimos dias, compartilhando com o leitor 'insights' valiosíssimos -- muitas vezes oriundos da Gavekal. Na segunda-feira passada, Didier Darcet soou o alarme ao escolher como título para sua análise "World Crash Ahead". Já na sexta-feira, utilizando uma elevada dose de ironia, busquei chamar atenção ao crescente "spread" entre os títulos italianos e os alemães de mesmo prazo. Mas, e agora que o S&P 500 caiu quase 250 pontos em alguns dias? Como proceder?

Penso que a primeira resposta a este tipo de pergunta está sempre relacionada ao horizonte de tempo do investidor. E aqui, o grande desafio está na tendência dos praticantes de mercado de se transformar de trader (horizonte de tempo curto) para investidor (horizonte de tempo longo). Manter uma postura coerente em relação a esta vulnerabilidade (que é muito bem descrita por Kahneman e Tversky) é um enorme desafio.

Falando do ponto de vista daquele que trabalha com derivativos... Observe que aquele que fechou o dia com uma posição DELTA NEUTRA, fatalmente acorda hoje com uma posição DELTA COMPRADA! E aí? Faz o quê? É justamente a resposta a esta pergunta que ditará o comportamento do mercado nesta manhã. Por aqui, é possível que uma desvalorização da nossa taxa de câmbio venha a absorver uma boa parte desta aversão a risco.

Lá no S&P 500 estamos nos aproximando de um importantíssimo vencimento de contratos futuros e opções (vencimento trimestral). Há relatos que os "market makers" estão "short gamma"; isto é, estão com posições estruturadas que necessitam de intervenções pró-cíclicas, intensificando os movimentos de alta e de baixa nos índices.

Para finalizar, tome cuidado com o que é conhecido como o "viés da confirmação" -- aquela tendência de buscarmos aquilo que confirma as nossas ideias e convicções. Se você está perdendo e está sofrendo, fique mais atento a outras opiniões, outras interpretações.

Marink Martins