Nunca mais aposte na Mega-Sena!

03/12/2017

Olá, leitor. Aqui é a Olivia. Apresento a vocês hoje o Marink Martins, que passa a compor o time da Inversa. Demoramos um pouco, mas valeu a pena: atendemos aos pedidos de vocês trazendo o maior especialista de Opções do país. Ele é mais um dos colunistas convidados para este espaço dominical e, em breve, você vai saber tudo o que estamos preparando com ele para turbinar seu patrimônio. Um abraço.

Que acham?


Conforme o ano se aproxima do fim, há sempre um colega de trabalho disposto a organizar um bolão da Mega-Sena . Papo vai, papo vem, a turma começa a sonhar alto e quando você vê, seu nome já está em uma lista, com um valor ao lado a ser pago, normalmente escrito em caneta vermelha! E o pior é que, em meio a empolgação, sempre tem aquele que pressiona para que o grupo realize o jogo mais caro possível, com aquela notória convicção de que desta vez vai.


Confesso que já participei de alguns, mas depois de uma determinada época, passei a fugir dos bolões como o diabo foge da cruz. A minha resistência a tal iniciativa começou a partir do momento em que comecei a trabalhar com opções há quase 20 anos. Na verdade, à medida que fui aprendendo um pouco mais sobre aquele mundo probabilístico, passei a olhar as longas filas nas casas lotéricas com outros olhos. Recentemente, andando em um shopping na Barra da Tijuca, tive um devaneio no qual eu era dono de uma casa de apostas cujo nome imaginei ser Side Bet.


Dando corda ao meu "day dream", resolvi parar para tomar um sorvete. Sentei-me em uma mesa e tirei o meu laptop da mochila para fazer simulações. Pensei: quais são as chances de acertar uma Mega-Sena? Aposto que as probabilidades utilizando opções"deep out-of-the-money" são bem mais favoráveis! Abri a planilha de opções e fui averiguar.


Pesquisei na Internet para saber o custo da aposta mais cara possível e sua respectiva probabilidade de ocorrência. Descobri que a aposta mais cara era a que permitia a escolha de 15 dezenas com uma probabilidade de ocorrência de 1/10.000. Seu custo era de 20 mil reais.


Em seguida, fiz um levantamento para descobrir qual seria o prêmio médio pago em um sorteio. Rapidamente notei que a demanda por bolões começava a esquentar a medida em que os prêmios estavam por volta de 30 milhões de reais. Logo computei a expectativa de retorno ao multiplicar o valor do prêmio por sua probabilidade de ocorrência (30m x 1/10.000) e cheguei a um valor de 3 mil reais. Um valor baixo para uma aposta que custa 20 mil reais. Mas quem se importa? Sonhar ainda é de graça!


Fiquei animado e acessei a minha planilha Black & Scholes para simular um produto que pudesse competir com o mencionado bolão de 15 dezenas. Após alguns minutos, utilizando contratos de opções de VALE3, simulei uma aposta com algumas vantagens competitivas para o apostador.


Na minha lojinha imaginária Side Bet, eu ofereceria um único produto, uma aposta cujo nome seria Space X em homenagem a Elon Musk (o cara está na moda!). Tal aposta seria a compra de uma CALL de VALE3 com preço de exercício de 100 reais e com vencimento de um ano da data da compra. O custo da aposta seria idêntico ao do bolão da lotérica (20 mil reais) e permitiria que o apostador comprasse um lote de 5 mil CALLs, pagando 4 reais por contrato.


Na minha estratégia de marketing da aposta Space X diria que o apostador teria uma chance de multiplicar seu capital inicial por 100x, para 2 milhões de reais, com uma probabilidade de ocorrência de 1,2 por cento. Uma expectativa de retorno de aproximadamente 24 mil reais (1,2 por cento x 2m), bem superior àquela oferecida pela lotérica.


A essa altura, o leitor já está se perguntando sobre como cheguei a tais probabilidades de ocorrência. Bem, se ele já está familiarizado com modelos de opções, talvez já tenha ouvido falar sobre o DELTA de um contrato de opções e suas três interpretações.


Tal probabilidade veio justamente da interpretação que trata o DELTA como uma probabilidade de ocorrência de um determinado evento. Além disso, tal leitor deve também ter detectado que eu utilizei uma volatilidade implícita bem elevada na precificação da opção a ser vendida para o público. Bem, sonho é sonho, vale-tudo. Afinal, após a venda eu teria que ir à Bolsa e me proteger de eventuais riscos.


Por um minuto imaginei a Side Bet bombando, na capa da revista Exame. Mas, em seguida, ao me lembrar do famoso livro do Daniel Kahneman, Rápido e Devagar - Duas formas de Pensar, logo concluí que meu produto estaria fadado ao fracasso. Apostadores de bolão não estão nem aí para probabilidades. O que eles realmente gostam são operações convexas, com muito pouco a perder e milhões a ganhar. Quanto a probabilidade? Who cares?

Um abraço,

Marink.

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