Quem me conhece sabe que sou um obsessivo quando o assunto é o
mercado de opções. Em dias como o de hoje, ao acordar, a primeira que coisa que
faço é entrar no site da B3 para conferir o "mapa" das opções - uma tabela que
descreve, dentre muitos fatores, a relação entre titulares e lançadores neste
mercado.
Eis que em meados de março, ao analisar tal tabela, sou
surpreendido por algo que jamais acontecera durante a minha longa experiência
de 20 anos atuando neste mercado. Utilizando o meu rastreador de distorções,
detecto um contrato, bem distante do preço atual (PETRE56 - cujo preço de
exercício é R$26,50, para vencimento em maio), com uma relação titular/lançador um tanto esdrúxula. Havia aproximadamente 8.000 titulares para 80
lançadores. Isso jamais acontecera no mercado de opções brasileiro.
O que poderia ter acontecido para atrair tantos investidores
para um único contrato de opções? Vejam que, historicamente, a soma entre
titulares e lançadores raramente supera 2.000 participantes. Além do elevado
número de participantes, o que mais me chocou foi tamanho desequilíbrio entre
as forças de mercado - entre os comprados (titulares) e os vendidos
(lançadores).
Fui tomado por uma curiosidade que me fez lembrar da época em que eu era "trainee", estudando para a prova do Series 7 durante os anos 90. Quando algo assim acontece, lembro-me do velho "slogan" da NBA, "I
LOVE THIS GAME"!!!
Não demorou muito e logo descobri que no dia 14/3, Felipe
Miranda, fundador da Empiricus, um Taleb-Spitznageliano de carteirinha, fã de
operações com características convexas, havia recomendado a compra de tais
contratos aos assinantes do Palavra do Estrategista. Não hesitei e logo assinei
o produto para ter acesso ao seu conteúdo, e disse a mim mesmo: tem oportunidade
aí!!!
Nele, Felipe expôs seus argumentos e apresentou uma estratégia
para que os assinantes pudessem desfrutar da convexidade no mercado de opções -
isto é, da característica inata desses contratos onde o máximo a perder é o
prêmio pago enquanto o máximo a ganhar é ilimitado.
Pesquisei mais a fundo, e descobri que nas horas subsequentes
a recomendação, 90% das compras no mercado foram executadas pela corretora XP
enquanto 95% das vendas foram executadas pela corretora do Banco Credit Suisse.
Estava ali configurada uma situação onde havia muitas pessoas físicas na compra
e uns poucos institucionais na venda.
Eu, atônito pelo desequilíbrio na relação
de forças neste contrato, vendi 50.000 contratos da PETRE56 ao preço médio de
42c. Para não ficar completamente descoberto, travei parcialmente tal venda com
a compra de um contrato ainda mais fora-do-dinheiro.
Não demorou muito e o preço do contrato logo caiu, não só por
fatores direcionais, mas também por uma compressão em um dos fatores
determinantes na precificação de tais contratos: a volatilidade implícita.
Logo que o contrato caiu para um patamar inferior a 10c, zerei
minha posição. Estava convicto que os ditos comprados da E56 não aguentariam o prejuízo
e logo iriam provocar uma enorme "desova" no mercado. Mas, seguindo a
disciplina de sempre, não me permiti ficar vendido em um contrato cujo preço fosse inferior a 10c.
Embora tenha lucrado com a operação, errei feio em meu prognóstico! Apostava que os comprados não aguentariam o "balançar da
roseira" e venderiam suas posições por volta de 20c. Dia após dia, checava o
mapa de opções, e nada mudava. Os comprados, de fato, compreenderam o conceito
da convexidade e se posicionaram preparados para o fato de que tal posição
poderia virar pó!
Quando tudo parecia perdido, eis que vem uma disrupção global
no mercado de petróleo (Elas sempre acontecem!) aliada a boas perspectivas na
negociação entre a empresa e o governo no que tange o contrato de Cessão
Onerosa, e o preço das ações da Petrobras dispara. Para minha surpresa,
aproximadamente 7.500 titulares do contrato E56 permaneceram lá; firmes na
compra. Ontem tal contrato fora negociado a 65c.
Bem, estamos há 6 dias do vencimento de opções e o
desequilíbrio entre comprados e vendidos da série E (vencimento em maio)
persiste! A batalha será intensa! Já comprei a pipoca e vou ficar assistindo das arquibancadas, pensando na série F
(vencimento em junho).
Um bom fim de semana a todos,
Marink Martins