O custo do dinheiro deve promover a destruição criativa e a seleção natural na economia

31/07/2019

O estrategista veterano Charles Gave tem como principal fonte de inspiração o trabalho desenvolvido pelo economista sueco Knut Wicksell que, em sua obra, conseguiu unir a visão de Destruição Criativa capitaneada por Joseph Schumpeter junto as ideias de Seleção Natural de Charles Darwin. 

No texto abaixo busco compartilhar, misturando outros temas relacionados, essa visão de Charles que se faz pertinente nesta semana em que a tal "mágica" monetária (aqui com ironia) está sendo colocada em curso.
Antes de tudo, porém, quero te chamar atenção a alguns fatores importantes:

  • Hard Brexit - representa um risco e deve gerar volatilidade. Entretanto, Anatole Kaletsky ainda atribui uma probabilidade baixa (10%) para sua concretização.
  • Irã/Israel - "O bicho está pegando por lá!". Isso poderá impactar o preço do petróleo que se mantém estável, próximo a US$60.
  • QT - A decisão do FED de encerrar o processo de redução de seus ativos é positiva para a liquidez dos mercados.
  • Hong Kong - Ontem autoridades chinesas acusaram os americanos de estarem provocando as rebeliões na ilha.
  • Petrobras - As vendas de refinarias reduzirão o risco associado a variação do preço internacional. Vejo isso como algo muito importante. O problema no curto prazo, entretanto, é a mão pesada de Montezano atuando na venda de ações.

Agora vamos ao texto...

Para aqueles adeptos ao que é conhecido como "darwinismo econômico", está claro que uma maneira de se evitar crises financeiras é manter o custo do dinheiro em um patamar estável, mas que, ao mesmo tempo, não seja muito baixo.

Assim limita-se um crescente endividamento no setor corporativo.

Ao fazer isso, o crescimento econômico passa a ser fruto de investimentos que geram ganhos de produtividade, e consequentemente, maiores retornos sobre o capital investido. Tal condição permite também que o endividamento corporativo acumulado seja honrado e rolado sem maiores problemas.

Temos aí o receituário para o que é conhecido como a destruição criativa sugerida por Joseph Schumpeter conciliada com a ideia darwinista de seleção natural. Algo que certamente é considerado platônico nos dias de hoje em que políticos e burocratas "pedalam" a economia de forma a conseguir mais votos para uma eventual eleição. 

Quando a estrutura econômica acima não ocorre (e ela nunca ocorre da maneira acima!), temos ciclos de expansão e recessão econômica que tendem a, cada vez mais, tomarem a forma de euforia (expansão) e depressão (recessão) econômica.

Em situações em que o custo do dinheiro é reduzido drasticamente, o que se vê é uma apreciação dos ativos financeiros e imobiliários, seguido de um ciclo de endividamento que leva a formação de empresas zumbis - aquelas que só sobrevivem em cenários de juros baixos. Passa-se um bom tempo em que o número de empresas pedindo falência cai drasticamente. Até que chega-se a um ponto onde o retorno sobre o capital investido acaba sendo pressionado para baixo pelo sistema. O resultado final é uma mega deflação. As autoridades acabam presos no que Louis-Vincent Gave descreve como o Hotel California dos juros baixos -- uma situação em que é fácil entrar, porém, impossível sair dela. Esse é um cenário já visto no Japão e em curso na Europa.

Neste cenário de "japanização" da economia ainda não sabemos como ela se comporta em um eventual retorno da inflação. Chega-se a um ponto onde tanto o setor corporativo como o governamental está tão endividado que uma simples elevação do custo do dinheiro para conter a inflação seria o suficiente para promover um calote generalizado na economia.

Mas, como diz o mestre Ivan Sant´anna: há coisas que simplesmente não podem deixar de acontecer! Ele fez esta afirmação ao refletir a respeito de uma eventual aprovação da reforma da previdência muito tempo antes da recente votação que vimos no congresso. Ivan sabia que uma reforma na previdência era algo que simplesmente não poderia deixar de acontecer. 

Se apropriando do mesmo raciocínio e levando para o caso europeu mencionado acima, o que deve ser evitado a qualquer custo é a falência do sistema. Sendo assim, enquanto houver EURO, a Europa estará presa em um eterno Hotel California!

Marink Martins

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