O gráfico mais importante do momento

06/05/2024

Na semana passada te apresentei um gráfico diferente. Escrevi a respeito de um gráfico que ilustra o retorno acumulado de um índice em janelas de 50 e 100 dias. Tal gráfico atende pelo nome, em inglês, de "trailing returns" ou "rolling returns". E em se tratando do nosso IBOV, o gráfico atualizado se apresenta como bem convidativo. Eu explico o porquê a seguir:

Acima, o gráfico de "Trailing Returns Ibovespa" preparado pelo Rodrigo Côrtes da averatrading.com

Ao analisar este gráfico busco responder a duas perguntas: há um caráter cíclico no período em questão? Os pontos do gráfico estão predominantemente acima ou abaixo de 0%?

Observo que a ciclicidade do gráfico é notória! Além disso, percebe-se que, de 2021 até hoje, a frequência de pontos positivos (acima de 0%) vem crescendo!

Observe também como, ao longo desta história pós-pandêmica, os retornos positivos do IBOV tendem a registrar +15% em ambas as janelas de tempo consideradas. Assim, caso tal ciclicidade persista, não seria insano esperar por uma valorização de aproximadamente 15% no IBOV em um período de um a três meses. Isso representaria um salto do atual nível de 128.500 pontos para algo próximo a 148.000 pontos. E se isso ocorrer certamente pegará muitos investidores "sub-alocados" em Brasil -- inclusive os investidores domésticos "paralisados" no conforto dos fundos DIs.

Agora, devo confessar que se eu estivesse "ultra-conservador", com boa parte do meu dinheiro em um fundo DI, não seria um gráfico como este que alteraria a minha alocação. Eu certamente precisaria ouvir outros argumentos de natureza fundamentalista que me motivassem a embarcar em uma zona de maior risco. Assim, listo alguns neste sentido:

1. Há indícios de que os próximos dados macroeconômicos nos EUA virão apontando para uma desaceleração no consumo. Quem diz isso é Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macro Research, que vem se debruçando em dados fornecidos pela NFIB (associação dos pequenos empresários dos EUA). Isso tende a fazer com que a taxa de juros de longo prazo dos "treasuries" caia, abrindo espaço para um recuo nos "spreads" em relação a outros títulos globais.

2. Ainda nos EUA, conforme podemos observar no gráfico abaixo, pela primeira vez, desde 2022, os analistas estão revisando as expectativas de lucratividade do trimestre subsequente para cima.

Acima, o gráfico ilustra a alteração feita por analistas -- em relação a expectativa de lucratividade -- durante o primeiro mês de cada trimestre.

3. E as ações chinesas? Você já viu o preço do ETF KWEB? E do Hang Sang? Bem, estes índices estão disparando apesar dos problemas no setor de construção civil chinês. Será que é devido ao anúncio do governo chinês de realização de um "Third Plenum" direcionado a endereçar problemas no setor?

Eu poderia elencar diversos outros argumentos, inclusive argumentos domésticos associado a "sub-alocação" dos investidores locais em ações brasileiras. Dito isso, prefiro fechar este texto, mencionando algo que ocorreu no fim da tarde de quinta-feira e início da sexta-feira que se provou encorajador.

Na última quinta-feira, o contrato futuro do IBOV (WINM24) caminhava bem, registrando não só uma alta expressiva, mas também uma "outperformance" em relação ao S&P 500. De repente, no fim do dia, saem duas informações relevantes: o resultado da Apple, que fez com que o S&P 500 se valorizasse, e a divulgação de que o governo não aceitaria a proposta de 127 bi feita pela Vale para "fechar" o caso Mariana. Neste momento, o WINM24 cai mais de 500 pontos, em um momento de pouca liquidez (durante o "after market").

Na sexta-feira de manhã (antes da divulgação dos dados do "payroll"), o WINM24 abre um pouco mais forte e, rapidamente, cai uns 400 pontos em linha com o comportamento visto no fim da quinta-feira. Eis que vem os dados do "payroll", não só mostrando uma menor criação de empregos nos EUA, mas também ganhos salarias menores. E aí, o WINM24 dispara 2.000 e se sustenta próximo a máxima por todo o dia. No fim da sexta-feira (durante o "after-market"), o mercado ficou ainda mais forte.

Em resumo, vivemos em um mercado que está mostrando força mesmo em meio a notícias negativas vinculadas a economia doméstica. Este fenômeno não só está ocorrendo no Brasil, mas também na China. Como diria meu amigo Ivan Sant´´ anna: "um mercado que sobe em meio a notícias negativas é um mercado forte!".

Marink Martins

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