O Joesley, a húbris, a Lava Jato e o Ivan Sant´anna

18/09/2017

A Inversa Publicações (uma empresa Empiricus) publicou um texto escrito pelo nosso consultor Marink Martins, que fez uma homenagem ao seu amigo Ivan Sant´Anna por conta do lançamento de mais um edição de seu livro "Os Mercadores da Noite". Confira:


O Joesley, a húbris, a Lava Jato e o Ivan Sant'Anna

Antes que o leitor pense que o nosso querido escritor Ivan Sant'Anna está envolvido na operação Lava Jato, deixe-me explicar. Quem já leu seus livros sabe que Ivan é um escritor atento a detalhes.

Se ele diz que Julius Clarence, o protagonista de seu clássico Os Mercadores da Noite, levou sua esposa para assistir uma determinada peça de teatro em uma terça-feira de setembro de 1982, você pode ter certeza que tal evento ocorria em tal data. Ivan é obsessivo. Antes que explodisse o Eurotunel em sua famosa trama, ele foi a Paris pesquisar e conversar diretamente com o responsável pela área de operações, buscando uma contextualização da cena que desse ao seu leitor uma experiência em 4D. Ivan pensou em 4D? Lógico que não, mas, eu como leitor, não só pude imaginar a explosão, como pude ouvi-la e sentir a tensão de um dos momentos mais marcantes de sua ficção.

Em uma apresentação que fiz com o Ivan no Rio de Janeiro, eu disse ao público que ele, sem saber, previu algo parecido com o Flash-Crash de 2010, um evento que provocou uma queda repentina de aproximadamente 8% nos principais índices americanos. O próprio Ivan me olhou meio incrédulo. Mas pode crer! Eu vivi de perto o terror que assombrou os mercados em maio de 2010, e tal evento muito se pareceu com algo produzido pelo funcionário paquistanês do então conturbado Julius Clarence.

Mas e a Lava Jato? O que tem a ver com Ivan? Bem, sabe-se que o benefício da delação premiada é algo que está intimamente associado a tal operação. E não é que há 21 anos, ao publicar seu outro clássico, Rapina, Ivan narra um sequestro que muito se assemelha a eventos contemporâneos, com uma dose de húbris (palavra grega associada a desmedida, arrogância devido a um "excesso de confiança") similar a que vimos em Joesley Batista em suas últimas gravaçōes.

Na trama, seu protagonista, Galo Cego, gerente da boca de fumo do morro do Borel no Rio de Janeiro, sequestra um empresário metido em falcatruas no mercado financeiro. Em busca de levantar 10 milhões de dólares como recompensa, o idealizador do sequestro bola um plano brilhante: em vez de pedir dinheiro a família, vai pedir dinheiro a empresários-amigos do sequestrado que estão envolvidos em tais falcatruas. O sequestrado é forçado a delatar tais empresários para se manter vivo. (Galo Cego faz uma espécie de crowdfunding antes mesmo que este tipo de operação se tornasse popular.) O plano idealizado vai sendo executado perfeitamente e os criminosos estão praticamente com a mão na grana, até que a húbris entra em cena. Não satisfeito com o lucro da operação, Galo Cego, tomado pelo "excesso de confiança", vai em busca de tirar dinheiro de um "peixe grande" -- o governador do Estado. E aí já viu: assim como Joesley Batista que tinha a delação dos sonhos e a perdeu (ou está na iminência de perder), Galo Cego acaba perdendo a vida. Desafiar governadores e presidentes nos dias de hoje talvez seja como desafiar os deuses na época da Grécia antiga. Em suma, uma péssima ideia!"

Marink Martins, CNPI

www.myvol.com.br