O mercado americano e a Ambev

07/07/2017

Ontem, durante o programa "Half Time Report" na CNBC, Mark Fisher, um conhecido trader de commodities, ao ser questionado sobre as perspectivas para os índices de renda variável nos EUA, expressou que o mais provável é vermos uma estagnação de retornos nos próximos anos. Fisher certamente não está sozinho em seu prognóstico. Ed Easterling, em seu livro "Unexpected Returns", explica que, embora retornos de curto prazo sejam imprevisíveis, no longo prazo a história é completamente diferente. No longo prazo, retorno é uma função de três importantes fatores:

  • Rendimento sobre dividendos - Por volta de 2,2% ao ano nos EUA;
  • Taxa de crescimento do lucro por ação - Este tem sido de aprox. 10% nos últimos anos, mas poucos acreditam em sua sustentabilidade;
  • Nível de preços do mercado, medido pela relação P/L no momento inicial da análise. Hoje, o P/L do índice S&P 500 encontra-se acima de 20x, acima da média histórica de 10 anos de 14,5x.

Sabe-se que o valor de um investimento é uma função da expectativa do fluxo de caixa futuro por este gerado. Nos últimos anos os índices americanos foram capazes de registrar ganhos expressivos ancorados no apetite de investidores por ações de tecnologia e pelo fato de que, com juros baixos, não havia muitas alternativas nos mercados. Hoje, as vinte maiores empresas de tecnologia do mundo são responsáveis por 40% da capitalização de mercado global; algo certamente preocupante, dado a variabilidade associada aos fluxos de caixas gerados por tal segmento. Partindo de um "valuation" mais elevado como os de hoje, o mais provável é que retornos subsequentes sejam bem mais baixos, senão próximos a zero.

Ao ouvir o programa de ontem, lembrei-me das ações da Ambev que, após uma bela arrancada de 2011 a 2014, entrou em um período de longa estagnação diretamente associada ao menor poder de compra dos brasileiros nos últimos anos. Mas não é a só a recessão que vem afetando o desempenho de suas ações. O fato de que em 2014 suas ações negociavam a níveis elevados de P/L (>20x) contribuiu para estagnação dos preços nos anos subsequentes. Tanto Mark Fisher quanto Ed Easterling preveem um comportamento similar para o índice S&P 500 nos próximos anos. Ed Easterling, puxando a "sardinha" para o seu lado de "investment advisor", complementa dizendo que a "festa" com os fundos passivos (ETFs) tende a acabar, pois investidores precisarão de gestores ativos para conseguir retornos superiores a 5% nos próximos anos.

O que aconteceu com a Ambev irá acontecer com outras estrelas da bolsa eventualmente. Isso simplesmente faz parte dos ciclos de mercado. Por isso, é muito importante ter uma compreensão dos atuais níveis de preço do mercado em relação aos lucros projetados. Em tempo: em seu relatório diário, analistas do BTG Pactual dizem não ver "upside" para as ações da Ambev no curto prazo e estabeleceram um preço alvo de R$17,50 para suas ações.

Marink Martins, CNPI

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