O pessimismo do Goldman Sachs e possíveis repercussões para o IBOV

13/01/2019

Não é de hoje que analistas e estrategistas do Banco Goldman Sachs andam céticos com relação as perspectivas para as bolsas norte-americanas. 

David Kostin, estrategista chefe para a área de renda variável, diz que a taxa de crescimento da lucratividade das empresas que compõem o índice S&P 500 deverá ser de 3% para o ano de 2019. Observe que durante o ano de 2018, o crescimento dos ganhos foi superior a 20%, impulsionado pelos cortes de impostos. Mesmo assim, o índice S&P 500 terminou o ano no vermelho. 

Contudo, o ano começou muito forte e já acumula uma alta superior a 3% em duas semanas de pregão.

O grande teste, entretanto, será nesta próxima semana quando começam a serem divulgados os resultados do último trimestre. Nos últimos dias, a bolsa americana conseguiu superar notícias negativas vindas da varejista Macy´s e da gigante Apple. 

Observe que a expectativa da Goldman para o lucro consolidado para o ano de 2019 de todas as empresas que compõem o índice S&P 500 é US$168,00. Assim, podemos facilmente calcular que o índice negocia a um múltiplo de Preço/Lucro projetado de 15,45x para o período.   (2.596 pontos / 168 dólares).

Tal patamar está ali, bem próximo da média histórica. Dito isso, o investidor deve entender que em períodos de mercados altistas, tal múltiplo se expande. Em períodos de mercados baixistas, o inverso também ocorre. Assim, é comum avaliarmos ativos como "baratos" em um mercado baixista.

Não estou aqui afirmando que o mercado americano está em um ciclo baixista. Confesso que isso ainda não está claro para mim. 

O que eu gostaria de compartilhar com você, assinante MyVOL, é um gráfico que reitera a minha tese de que a expectativa de ganhos em bolsa para os próximos anos tende a ser bem mais baixa. Você já deve ter me dizendo a seguinte expressão: Prepare-se para ganhos menores!

Pois é, a minha tese tem como principal pilar o fator demográfico. Historicamente, uma significativa parte da lucratividade das empresas era oriunda do crescimento populacional. Agora a história é outra! As empresas precisarão de ganhos de produtividade e, com isso, muitas ficarão pelo caminho. 

Um outro fator importante, diz respeito ao percentual alocado em ativos financeiros pelas famílias norte-americanas. Aqui, a análise é bem intuitiva: quanto maior o percentual, menores serão os retornos subsequentes. 

Lembre do efeito de uma ação considerada "widely held" (aquela que todo mundo tem em carteira), como fora o caso das ações da Microsoft no começo da década passada. Todo mundo já tinha tais ações na carteira. Com isso, mesmo registrando crescimento de lucratividade robusto ao longo da última década (2000 a 2009), a performance de suas ações foi pífia. 

Sendo assim, observem este gráfico preparado pela equipe de análise do fundo FPA Crescent Fund: (explico em mais detalhes abaixo, pois ele é meio confuso)

Como título do gráfico, o analista pergunta: será que o percentual alocado em bolsa pelas famílias é um bom indicador de performance futura?

Bem, o gráfico analisa um período superior a 50 anos e parece não deixar muita dúvida a respeito desta relação que, convenhamos, é bem intuitiva conforme mencionei no caso das ações da Microsoft.

O interessante neste gráfico é também a forma como este foi concebido. Os analistas pegaram os dados com relação ao percentual alocado em bolsa, jogaram 10 anos a frente e inverteram (linha verde, eixo direito). 

De forma simplística, buscando te economizar tempo, digo que o gráfico mostra que em período em que a alocação das famílias em bolsa era de 25%, os retornos subsequentes ficaram por volta de 10% ao ano. Note que agora tal alocação está próxima a 45%, o que nos leva a crer em um longo período em que os retornos, em média, não deverão superar a faixa de 5% ao ano. 

E o Brasil? Bem, por aqui também temos desafios demográficos, mas, ao contrário do que ocorre nos EUA, o percentual de alocação das famílias em bolsa é pífio. Nem se quer temos mais de 1 milhão de CPFs com contas abertas em corretoras. 

Tudo isso faz com que muitos fiquem extremamente positivos quanto ao cenário para as ações brasileiras.

Embora, eu não esteja negativo, ainda encaro a oportunidade por aqui com uma desconfiança um pouco superior àquela propagada pelas mídias financeiras.

Vivemos em um mundo globalizado, e por isso, saiba que muitas famílias norte-americanas, japonesas e outras, indiretamente, também são acionistas de bancos brasileiros como o Itaú. E essa certamente é uma razão que contribui para o fato de que tais ações não estejam uma pechincha.

As ações do Itaú negociam a um múltiplo de quase 2,5x o seu valor patrimonial em um momento que grande parte dos bancos do mundo desenvolvido passa por sérias dificuldades. Naturalmente, a bolsa brasileira vai além dos bancos, e certamente conta com ações com uma precificação bem mais atrativa.

O Brasil de hoje tem um enorme endividamento e precisa agir rápido com as reformas. O grande Armínio Fraga, nos últimos dias, emitiu sua opinião a respeito disso e por isso vou ficar por aqui.

Um bom domingo a todos,

Marink Martins

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