O porquê de um VIX tão baixo

02/10/2017

Imaginem um índice composto por somente duas ações: ação A e B, cada uma com um peso de 50%. O preço da ação A tem se comportado de forma volátil, subindo 5% em um dia, 10% no outro; tudo isso em um cenário onde o preço da ação B se mantém estável. Pode-se dizer que tal índice fictício vem se comportando de forma volátil, puxada pela volatilidade da ação A. Um cálculo de tal comportamento indicaria uma volatilidade anualizada de aproximadamente 55%.

Agora, imaginem um cenário diferente, um em que, para cada oscilação de +5% no preço da ação A, há um movimento correspondente na direção oposta e de mesma magnitude no preço da ação B. Neste cenário, embora as duas ações que compõem o índice se comportem de forma volátil, a volatilidade do índice como um todo é eliminada devido a correlação inversa entre as partes. Expliquei este conceito em mais detalhes no dia 7/8/2017 ao escrever o comentário É A CORRELAÇÃO, IDIOTA! (https://www.myvol.com.br/l/e-a-correlacao-idiota), no qual fiz uma brincadeira com a famosa frase do estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton, James Carville ("It´s the economy, stupid"). Neste cenário, dominado por uma elevada correlação inversa entre as partes, diz-se que a correlação do índice, como um todo, aproxima-se de zero.

Faço toda esta analogia para reiterar que a causa principal de termos um VIX (medida de volatilidade associada ao índice S&P 500) tão baixo, registrando mínima após mínima, reside na presença de um movimento de rotação setorial que faz com que as oscilações extremas sejam anuladas. Tal comportamento pode ser facilmente identificado através do gráfico abaixo, publicado pelo Chicago Board of Exchange, ilustrando a correlação entre os preços das ações que compõem o índice S&P 500. Logo em seguida, temos o gráfico do VIX.

Abaixo, o índice KCJ do CBOE, ilustrando a queda na correlação entre os preços das ações que compõem o índice S&P 500:

Abaixo, o gráfico do VIX, (uma média da volatilidade implícita dos contratos de opções cujo ativo subjacente é o índice S&P 500)

Uma famosa frase proclamada por "traders" mais experientes é a seguinte: em mercados de baixa, todas as correlações tendem a 1. Você pode até já ter ouvido tal máxima na faculdade, ou lido em um livro, mas para a verdadeira compreensão de seu sentido, muitas vezes é necessário vivenciá-la.

Tais "bear markets", quando em estado de pânico, provocam um efeito "manada" que muitas vezes desafiam a razão. Para os que gostam das teorias de finanças comportamentais de Khaneman, podemos dizer que, em tais mercados, há uma predominância do "sistema 1" de pensamento, aquele no qual as pessoas agem de forma intuitiva, impulsiva. Por esta razão, os índices de correlação disparam.

A vítima mais famosa deste tipo de inversão no mercado foi Howie Hubler, o famoso trader do Morgan Stanley, responsável pela maior perda registrada na história dos mercados. Hubler estava certo que o mercado de subprime americano caminhava para um colapso. Sendo assim, montou uma das posições mais agressivas vendendo CDSs de títulos subprime. Tamanha era sua convicção que Hubler não só quis ganhar no direcional, mas quis também apostar no alargamento do spread entre os títulos triplo AAA (mais seguros) e os subprime. No final da história, a crise foi tão severa que tudo desabou; tudo virou "junk". Howie Hubler perdeu US$9 bi do dinheiro do Morgan Stanley e, embora seu nome não tenha sido mencionado, sua história foi brevemente mencionada no filme A Grande Aposta.

Termino este Comentário, reiterando que um dos principais sintomas de saúde no mercado é o movimento de rotação setorial. Um "check-up" do mercado global passa a impressão que o paciente encontra-se extremamente saudável. O que muitos esquecem, entretanto, é que tal paciente, se parado em uma operação da Lei Seca, poderia facilmente perder sua carteira, por estar andando embriagado... embriagado por excesso de estímulos monetários dos bancos centrais!!!

Historicamente, já vimos índices de correlação baixos como este em duas ocasiões: em 1994 e no início do ano 2000. Na primeira situação, tal comportamento foi interrompido por uma elevação abrupta na taxa do fed funds que por pouco não levou o banco Goldman Sachs a bancarrota. Na segunda situação, tivemos o estouro da bolha do Nasdaq que levou a uma queda superior a 50% nos principais índices de ações. Investidores devem ficar atentos ao que está acontecendo este mês na China. De acordo com os gestores da Verde Asset, é provável que o país permita uma maior desvalorização de sua moeda após a indicação de Xi Jinping para mais um mandato. Isso poderá desencadear um aumento na volatilidade dos mercados.

Marink Martins, CNPI

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