O que os estrategistas estão dizendo...

06/07/2023

No Comentário de Mercado de hoje busco compartilhar o que vem sendo dito por estrategistas que acompanho diariamente a respeito de alguns temas relevantes:

1. Recessão na Europa

Um olhar para a pesquisa realizada pelo Instituto IFO na Alemanha nos leva a crer que a produção industrial do país deverá se contrair de forma intensa nos próximos meses. Tal indicador é considerado um indicador antecedente para a atividade econômica do país. Historicamente, uma queda neste indicador apontaria para cortes de juros no país. Todavia, a taxa de juros real atual está em aproximadamente -3%.

Pior ainda parece estar a situação fiscal na França. O déficit, que já é grande, vem crescendo. Caso o país entre em uma recessão mais profunda, o endividamento irá crescer e a parcela do orçamento dedicada a pagamentos de juros deverá superar 500 bilhões de euros por ano. Quem irá refinanciar a dívida francesa? Será que os alemães permitirão o BCE atuar nesta função?

Por tudo isso, os estrategistas dizem que os investidores devem evitar investir em títulos de renda fixa denominados em euros, assim como em ações de empresas voltadas ao consumo interno. A exceção fica por conta de empresas multinacionais que derivam boa parte de suas vendas de mercados internacionais.

2. Desvalorização do Iuane

A moeda chinesa vem se desvalorizando de forma acelerada suscitando dúvidas quanto ao desempenho da economia do país. Neste sentido, vale ressaltar que os estrategistas que sigo dizem que este movimento de desvalorização é uma resposta do BC chinês -- o PBoC -- para o que está em curso com a moeda japonesa e a sul coreana. Neste momento, o setor de exportação da China é um dos poucos a mostrar firmeza, de forma que é de interesse do PBoC manter a competitividade das empresas locais.

Um outro ponto importante ao se falar da China é que o país é um dos poucos em que a quantidade de moeda em circulação -- medida pelo M2 -- vem crescendo a um ritmo superior ao PIB nominal do país.

Muito se fala sobre a possibilidade de novos estímulos chineses. Todavia, os estrategistas nos alertam que estes tendem a ser mais tímidos. Em se tratando do setor de construção civil (importante para a Vale), deverão vir com o objetivo de sustentar os atuais níveis ao invés de provocar uma forte aceleração.

3. EUA - "Catch up trade"

Não é uma surpresa para ninguém que nos últimos meses o mercado de ações norte-americano se valorizou de forma extremamente concentrada -- destaque para as "7 empresas magníficas" -- Apple, Microsoft, Google, Amazon, Nvidia, Meta e Tesla. Uma das grandes questões do momento é: será que o resto do mercado virá junto? Ou será que as ações destas empresas de tecnologia continuarão a se valorizar e se distanciar do resto do mercado?

Nesta quarta-feira, dia 5/7, não se observou convergência. O índice S&P 500 Equal Weight (em que todas as empresas são tratadas de forma igualitária em termos de peso percentual no índice) caiu 0,48% enquanto o índice S&P 500 (por capitalização de mercado) caiu somente 0,20%. Isto ocorreu, pois, mais uma vez, as ações das Big Techs se destacaram.

Com a super valorização das ações das "Big Techs" dos EUA, o índice S&P 500 registrou uma tremenda virada em relação ao ocorrido com o preço das ações de empresas espalhadas pelo mundo. No gráfico abaixo, temos a performance dos últimos 50 dias do S&P 500 em relação as ações da carteira MSCI Global (excluindo as norte-americanas).


4. Brasil -- "Catch up trade"

Curiosamente, há neste momento uma forte correlação entre o nosso IBOV e o índice norte-americano Russell 2000. Caso a estrategista do Bank of America, Savita Subramanian, esteja certa quanto ao seu prognóstico de um mercado bem mais abrangente no começo deste segundo semestre, é bem possível que tal movimento contribua para um cenário mais convidativo aos ativos brasileiros.

Na CNBC, muito se fala a respeito de que é chegada a hora de comprar ativos em mercados emergentes. E, quando se fala sobre este tema, o Brasil é quase sempre mencionado.

Por tudo isso, lembre-se que, em se tratando de Brasil, o que está em curso em Brasília -- ainda que importante para o futuro do país -- talvez não seja tão determinante quanto você pensa. O Brasil continuará sendo um "aluno nota 6" independente do jogo político que se apresenta na capital do país. Assim, penso que a possibilidade de vermos um IBOV acima de 130.000 pontos está muito mais ligada à disposição dos investidores globais do que das decisões tomadas em Brasília.

Marink Martins




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