Além dos efeitos tributários claramente positivos, as grandes
empresas contaram com vento a favor em 3 quesitos extremamente importantes:
salários estáveis, juros baixíssimos e um dólar mais fraco.
A sustentabilidade deste tripé que vem impulsionando as
margens das empresas é algo que suscita questionamentos. Afinal, após um longo
período de crescimento econômico e um nível de desemprego baixíssimo, é comum
que haja pressões por maiores salários. Além disso, as taxas de juros já
começam a subir e a moeda americana já inverteu sua trajetória de
desvalorização.
Otimistas argumentarão que o aumento das margens de lucro é
uma função de uma maior presença do setor de tecnologia na economia que
contribui para maiores ganhos. É fato!
Mas quanto a sustentabilidade destes patamares de ganhos?
Sabe-se que, em períodos de pleno emprego, é necessário que
haja ganhos de produtividade para que as margens de lucro continuem crescendo.
E isso parece não estar ocorrendo.
De acordo com o próprio presidente do FED, Jerome Powell, os
ganhos de produtividade na economia estão em níveis baixíssimos, impactados por
questões demográficas, maior desigualdade e barreiras relacionadas ao nível
educacional dos trabalhadores. Observa-se que o percentual do PIB americano associado a salários vem caindo nos últimos anos.
Além dos baixos ganhos de produtividade, os pessimistas
argumentam que as grandes empresas norte-americanas, ao invés de direcionarem
recursos para investimentos (CAPEX), vem optando em recomprar suas ações no
mercado secundário.
Bem, o fato é que a economia americana está muito bonita na
foto! Estima-se que os lucros continuarão crescendo, ainda que em um ritmo
menor. O lucro consolidado projetado para os próximos 12 meses para as empresas
do índice S&P 500 é de US$172. Isso deixa o índice S&P com uma relação
de Preço/Lucro projetado de aproximadamente 16,5x. Um patamar que está longe de
representar qualquer coisa associada a palavra "bolha".
Contudo, vale destacar que os lucros das empresas são
historicamente instáveis. Em um cenário de recessão as margens de lucro podem
sofrer compressões um tanto abruptas.
Para finalizar, é importante destacar que, historicamente, o
crescimento da lucratividade das empresas guarda uma correlação com o
crescimento do PIB do país. Estima-se que este último não deva crescer a taxas
superiores a 3% ao ano nos próximos anos. Sendo assim, é possível que os
agentes de mercado necessitem adaptar suas expectativas para uma realidade um
pouco menos exuberante do que a registrada nos últimos anos.
Marink Martins