O triunfo dos Otimistas

28/09/2017

Em 2002, três professores da London Business School publicaram The Triumph of the Optmists, um livro sensacional no qual analisa o retorno de diversos ativos globais durante um período de 101 anos, começando no ano de 1900. Tal base de dados foi atualizada pelos autores e publicada em parceria com o banco Credit Suisse em um relatório denominado Yearbook 2017.

O título do livro advém do fato de que em 1950 poucos acreditavam que os índices de renda variável norte-americanos registrariam retornos nominais próximos a 10% ao ano nos 50 anos subseqüentes; algo que, de fato, ocorreu.

Ao analisar este relatório que compara retornos registrados por 24 países ao longo do último século, é de impressionar a outperformance americana ao longo do período em questão. No começo do século, um período em que ninguém havia andado de carro, ouvido um disco de música, ou falado no telefone, o mercado americano representava 15% do mercado global em termos de tamanho; bem atrás do Reino Unido (25%), mas um pouco à frente da Alemanha (13%) e França (11,5%). Hoje, o mercado americano reina supremo com uma representação de 54% do mercado global, trucidando o segundo lugar neste quesito que é o Japão, com 8%. O fascinante para os amantes de história é que o mercado japonês, ao longo dos anos 80, chegou a liderar tal ranking, com uma participação de 45% do mercado global, bem acima dos 30% norte-americanos registrados na época. Era a época de Akio Morita e William Deming. O fascínio visto hoje em dia por produtos da Apple uma vez pertenceu a uma empresa chamada Sony.

O triunfo dos Otimistas contribui para uma crença errônea de que o retorno na renda variável no longo prazo tende a ser de 10% ao ano. Basta ser paciente, e você obterá este tipo de retorno no longo prazo - é isso que se conclui ao ouvir muitos dos gurus por aí. Digo errônea, pois se o futuro é incerto, qual seria a validade de tal crença?

O que será o amanhã? Responda quem puder! - diz a música cantada pela União da Ilha em 1978. Apesar da imprevisibilidade de eventos, muitas relações são perenes. Pensando este conceito para o mundo das finanças, é intuitivo afirmar que se pagamos mais caro por um ativo, é natural pressupor que o retorno financeiro derivado deste nos anos subseqüentes seja menor. Quando extrapolamos este conceito para um grupo ainda maior de ativos, como as 500 ações do índice S&P 500, tal afirmação tende a ser ainda mais crível.

Por esta razão, venho enfatizando a temática "Prepare-se para retornos menores".

O que vimos no último século nos EUA foi certamente inflado pelos anos mágicos entre os anos de 1980 a 2000. Toda aquela galera que nasceu nos anos 50 e 60 entrou no mercado de trabalho. E eles eram gananciosos, dispostos a lutar em busca do sonho americano. Os americanos de hoje, mesmo os que ainda compartilham do mesmo desejo, simplesmente não acreditam mais em tal possibilidade. E olha que dizem que ACREDITAR é meio caminho andado. Tal comportamento, combinado com uma estagnação no crescimento populacional, maior endividamento do governo, e VALUATIONS excessivos corroboram para expectativas mais tímidas em termos de retornos sobre capital investido.

Embora Andrew Ng, ex-chefe de tecnologia da Baidu e fundador da Coursera, tenha dito em evento em São Francisco há duas semanas que a Inteligência Artificial é a nova eletricidade, ainda acredito, talvez de forma ingênua, que o fator mais importante determinante para retornos menores nos anos que estão por vir seja o demográfico.

De acordo com a previsão populacional, vamos sair dos atuais 7,5 bi de pessoas, para 10,2 bi em 2050, sendo que todo este incremento ocorrerá em países pobres. Com isso, trabalhadores do mundo desenvolvido terão enorme dificuldade para honrar os impostos que virão para cobrir o rombo dos estados e o sustento dos mais velhos. Com isso, será um pouco mais difícil comprar aquele Iphone 50 ou o Tesla supersônico.

Marink Martins, CNPI


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