Para você que ainda está fora da bolsa de valores

26/07/2023

Caso você não venha acompanhando estes comentários de mercado, nem os vídeos MyCAP Tendências Globais, talvez você ainda não tenha ouvido alguns argumentos em prol de uma excelente oportunidade que se apresenta na bolsa de valores brasileira.

Venho, ao longo de todo este ano, bem otimista com o nosso principal índice de renda variável -- o Ibovespa. Ainda que a trajetória deste indicador tenha sido um tanto errática, há indícios de que entramos em um ciclo de valorização. O IBOV não só está na máxima do ano, mas também vem registrando de forma consistente uma "outperformance" em relação ao principal índice de renda variável dos EUA -- o S&P 500. Abaixo, temos o retorno acumulado do ano, medido em dólares, de diversos ETFs (cestas de ações) de diversos países. Como podemos observar, o ETF EWZ, do Brasil, se destaca com um retorno acumulado em 2023 de 20,5%. Observe também que boa parte deste retorno foi uma consequência da expressiva valorização da nossa moeda ao longo deste ano.

Há espaço para maiores valorizações? A minha resposta é sim e seguem alguns dos principais argumentos que venho apresentando por aqui:

1. Barato, Abandonado e em Tendência de Alta

Apesar da recente valorização, o nosso IBOV permanece barato em termos de métricas de "valuation". Seja ela a relação Preço/Lucro, ou outras como CAPE, P/B, PIB Nominal/IBOV, M2/IBOV, o fato é que o IBOV permanece em níveis bem convidativos. Dizer que o índice está "abandonado" pelos investidores globais talvez seja uma "forçação de barra". Todavia, a recente alta certamente vem deixando muita gente irritada; ainda mais aqueles pessimistas que odeiam o atual governo e vivem alertando que um colapso da economia é iminente. Agora, o melhor desta história é que o IBOV entrou definitivamente em tendência de alta; em outras palavras, o IBOV é hoje um dos "momentum plays" favoritos dos investidores globais.

2. Um novo "Bull Market" em mercados emergentes excluindo a China + "desdolarização"

Antes de mais nada, é bom deixar claro que nenhuma moeda fiduciária está prestes a desbancar o dólar americano. No entanto, é inquestionável que o sistema monetário global passa por importantes modificações. O isolamento de um dos mais importantes produtores de commodities -- a Rússia -- por parte do ocidente, tem favorecido diversos países emergentes. A Índia, por exemplo, vem reduzindo sua vulnerabilidade associada à importação de petróleo através de compras diretas feitas da Rússia nas quais a liquidação é feita em moeda indiana. Já o Brasil vem fechando acordos com a China para que determinadas transações sejam fechadas em iuanes ou em reais. Ainda que este movimento seja incipiente, o que importa para os mercados é que ele representa uma tendência.

Um olhar para o comportamento das moedas de países emergentes ex-China, observa-se que elas registram excelentes performances em relação ao dólar americano (USD) e ao iuane (CNY). Aos poucos, os investidores globais incorporam uma tese de que em um mundo mais "desdolarizado" menor será a necessidade destes países manterem elevados níveis de reservas internacionais denominadas em USD.

3. Uma forte deterioração fiscal está em curso tanto nos EUA como na Europa

Não é de hoje que afirmo que EUA e Europa vivem um intenso processo de latinização de suas economias. Em abril de 2020, fiz o seguinte "post" em que abordei o tema:

E olhe o que EUA e Europa fizeram como resposta à pandemia. Eles subsidiaram moradia, transferiram renda, concederam moratória a estudantes e muito mais. Neste momento há uma importante greve ocorrendo nos EUA na empresa UPS. Se a economia aparenta ir muito bem, isso tem muito a ver com a tremenda expansão fiscal que está em curso. Uma na qual os EUA estão incorrendo em um déficits gêmeo (fiscal + conta corrente) superior a 10%.

Em 2024 teremos uma eleição presidencial nos EUA. Assim, espera-se que nos próximos meses, republicanos comecem a frear o ímpeto fiscal do governo Biden, o que deverá repercutir diretamente na economia do país. Caso isso não ocorra, é possível que o dólar americano comece a entrar em um ciclo de desvalorização que poderá resultar fazer com que muitos investidores globais busquem por uma maior diversificação global.

4. Estabilidade na China em meio a um crescimento mais contido

Um dos principais receios de muitos investidores é que a economia chinesa entre em colapso, resultando em uma enorme deflação global e aversão a risco. Tal evento provavelmente resultaria em uma forte valorização do USD e poderia ser negativo para países exportadores de commodities como o Brasil.

No entanto, há fortes indícios de que a China esteja transitando para um novo modelo econômico. Sabe-se que o crescimento econômico através da construção civil já se esgotou. Há certamente uma mudança de prioridade por parte do Partido Comunista Chinês (PCC); uma na qual o governo chinês tende a favorecer segmentos de maior valor agregado. Nos últimos anos, boa parte das exportações chinesas passou a contar com uma maior contribuição da manufatura local. Em destaque, é importante mencionar a posição de liderança chinesa no que diz respeito a transição energética; tanto na produção de baterias para carros elétricos, assim como na produção de componentes fotovoltaicos para energia solar. Recentemente, a China desbancou a Alemanha e o Japão como maior exportadora de veículos do mundo.

Por tudo isso, espera-se que o PCC irá tomar medidas necessárias para garantir que o país consiga superar as adversidades vindas da longa e alavancada expansão imobiliária sem que o país enfrente um processo deflacionário similar ao observado pelo Japão ao longo dos anos 90.

Onde posso estar errado?

Antes de mais nada, é importante deixar claro que investimentos em ações são voláteis. Como o próprio nome sugere, a renda variável varia! E como varia! Ela pode melhorar muito a sua condição de vida, mas se não for bem gerida e for conduzida de forma alavancada poderá te levar a ruína! E, nesse jogo, sua principal missão deve ser sempre EVITAR A RUÍNA.

Dito isso, há diversos riscos, sendo que o maior que considero no momento é de um eventual colapso no preço das ações norte-americanas. Tal colapso poderia vir como resultado de um receio de uma inflação mais elevada e uma postura mais restritiva do FED (risco moderado). Um tema ainda pouco discutido na mídia financeira tem a ver com a proximidade das eleições presidenciais nos EUA. Acredito que os republicanos começaram a jogar duro com os democratas e irão fechar a "torneira" no que diz respeito a gastos. Será que a bolsa americana conseguirá se manter resiliente sem o impulso fiscal predominante?

Para finalizar é importante deixar claro que investir é bem diferente de especular. O meu convite aqui é para que você invista uma parte de sua poupança pensando em um horizonte de tempo que seja de no mínimo um ano. Os argumentos apresentados partiram de uma análise macroeconômica global. Ao dizer que os ativos brasileiros estão baratos, busco afirmar que o conjunto das ações que compõem o Ibovespa está a preços atrativos. O investidor pode investir em tal cesta de ações através de ETFs diversificados como o BOVA11. Se, por ventura, o investidor desejar investir em ações específicas, o melhor a ser feito é conversar primeiramente com analistas dedicados a um determinado setor.

Marink Martins

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