PERIGO: Monetização de dívidas em curso!

16/03/2020

Inicio este texto explicando do que se trata a expressão monetização. Trata-se de um processo onde, na ausência de compradores para os títulos de dívida já emitidos, os bancos centrais passam a imprimir dinheiro e a se tornarem os detentores dos próprios títulos presentes no mercado.

Imagine você podendo imprimir dinheiro para liquidar sua fatura de cartão de crédito. Um sonho, não? Pois é, autoridades monetárias também sonham em ter este poder. Mas, a verdade é que somente os detentores de reserva de valor global tem este poder. O FMI emite um tipo de moeda, chamado SDR que se baseia nas cinco principais reservas de valor: dólar americano, euro, iuane, iene e libra esterlina. E olhe que é justamente esta a ordem de importância entre elas.

Observe que não temos ali nem o real, nem o bitcoin, nem o ethereum. O que está em curso no mercado é seríssimo e está na hora de parar com delírios ufanistas e anarquistas!

Em política monetária aprendemos que MV = PQ; de forma mais simples, temos que a quantidade de dinheiro em circulação (M), multiplicada por sua velocidade de circulação (V) é igual ao produto (PQ), que pode entendido pelo viés do que é produzido na economia global ou gerado através de renda per capital global.

Na minha interpretação o coronavírus é o catalisador que faltava para evidenciar muitos dos desequilíbrios acumulados ao longo dos últimos 30 anos. Temos a velocidade do dinheiro em circulação (V) em colapso total!

Para combater isso, as autoridades monetárias -- de forma coordenada ou não -- tentam de todas as formas aumentar a quantidade de dinheiro em circulação (M). O FED, que na semana passada se comprometeu a injetar recursos no mercado interbancário, anunciou neste fim de semana estar embarcando em um novo afrouxamento quantitativo (QE 4 ou 5, "quem tá contando?"). Ele vai injetar US$700 bi através da compra de títulos do tesouro e títulos imobiliários. Além disso, reduziu a taxa básica da economia americana ("fed funds") para zero!

O mundo pode estar à beira de um abismo deflacionário só antes visto na crise de 1929.

Aquela crise provocou uma desvalorização média de 86,2% no preço das ações. A crise durou 998 dias!! O mercado só retomou ao pico estabelecido antes da crise após 13,3 anos!!!

Na tabela acima temos o período entre a máxima e a mínima do principal índice de bolsa dos EUA durante várias crises. Observem também que temos o tamanho da queda em percentual ("drawdown") e sua duração. 

Quem leu o livro da Lisa Endlich, sobre a história da Goldman Sachs, sabe que o banco só retomou ao mesmo nível de patrimônio líquido em 1950!

Por tudo isso, meu caro, te imploro a considerar o conceito de utilidade marginal ao tomar suas decisões. Saiba que, em momentos de crise, cada real que você perder vale mais do que aquele que você deixou de ganhar.

Se você vem lendo os meus Comentários de Mercado, é provável que eu já tenha contribuído para uma postura de maior cautela de sua parte. Valorize as suas conquistas. Estamos em um momento de preservação patrimonial. Infelizmente, muitos ficarão pelo caminho.

Marink Martins

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