Perspectiva, apetite e paciência

14/08/2018

Como em quase tudo na vida, é tudo uma questão de perspectiva, de apetite ao risco, e de paciência.

Esta afirmação pode levar o leitor a pensar que basta ter paciência que eventualmente tudo irá dar certo. Mas, na verdade, a paciência aqui pode também estar associada a uma tolerância necessária para se evitar situações que podem se tornar extremamente complicadas.

Pensando no mercado de ações, não é difícil observar comentaristas que apontam para um determinado momento indicando uma certa obviedade na avaliação de uma determinada situação ou de um determinado ativo. Quem nunca ouviu alguém falando que as ações da Petrobras a R$5,00 estavam de graça? Ou, que o bitcoin a US$20.000 era uma insanidade!

O fato é que a cada momento há sempre uma montanha de preocupações a ser superada. É a famosa expressão em inglês conhecida como "wall of worry".

Pergunte ao seu comentarista favorito se a Petrobras a R$20,00 é uma pechincha! Pergunte se a cotação de 1,14 dólares para um euro é alta ou é baixa! Pergunte se o preço do petróleo a US$65/barril é justo ou não!

Bem, como os valores mencionados acima estão próximos aos preços atuais, não há como afirmar com veemência alguma em uma direção. Qualquer ultra-convicção neste momento beira o charlatanismo, uma vez que habitamos um mundo complexo que, por natureza, é altamente imprevisível.

Dito isso, estaria eu aqui afirmando não haver oportunidades de ganhos no mercado? Estaria eu aqui afirmando que tudo é aleatório?

Definitivamente longe disso. Há oportunidades em diversas frentes. Você pode atuar em busca de taxas no mercado através de operações com opções. Você pode surfar ondas de valorização ou desvalorização de um ativo tomando como base estratégias de momentum. Você pode também montar uma carteira de longo prazo com base em uma estratégia com o foco em valor, seguindo os velhos princípios de Buffet.

Bem, você pode fazer muita coisa no mercado, mas seja qual for a trajetória escolhida, siga-a concebendo a possibilidade de que você poderá estar errado em sua escolha. E se isso acontecer, regule o tamanho de sua aposta para que um eventual erro não represente o fim de sua empreitada no mercado de capitais.

Lembre-se que para atuar no mercado de capitais é necessário o acesso a capitais. E, por isso mesmo, todo este esforço na acumulação de capitais é algo que deve merecer o maior respeito.

Tudo isso pode parecer óbvio, mas é comum, dentro de um mesmo ser, habitarem diversos "EUs". O "EU presente" que estrutura uma determinada operação frequentemente demanda um comprometimento de tempo e de capital tamanho que muitas vezes coloca em risco a conquista de diversos "EUs" do passado. Desenvolver um sistema de gerenciamento de risco é algo sofisticado. Não é à toa que instituições segregam tais funções - quem cuida do risco não é quem estrutura uma operação.

Finalizo este texto, retomando o caráter dual discutido em seu início, mas, de fato, explorando um tema de mercado.

Neste exato momento há quem acredite que a exuberância econômica dos EUA atingiu seu ápice no fim do segundo trimestre deste ano. De agora em diante, o caminho estaria aberto a uma desvalorização do dólar com repercussões extremamente positivas para os mercados emergentes - inclusive para o Brasil.

Por outro lado, há quem acredite justamente o oposto. Há quem ache que o problema da Turquia irá, eventualmente, conduzir a Itália a romper com a política do euro - algo que levaria a uma forte valorização do dólar e maior aversão a emergentes.

Da minha parte, opto por uma estratégia mais reativa na qual tento dançar conforme a música, mesmo que tal dança se dê com um certo atraso e de uma forma, às vezes, desengonçada.

Marink Martins


Os últimos dois anos foram sensacionais para o investidor focado em ações de empresas norte-americanas. Abaixo, temos um gráfico de "Trailing Real Returns" do S&P 500 desde 1960. Este gráfico nos mostra o retorno real do índice em janelas de 2 anos.

Ainda que o momento atual não seja, nem de perto, um associado a uma crise financeira clássica, os últimos eventos deixaram muitos investidores "machucados". Afinal, no último mês tivemos 3 eventos que historicamente foram catalisadores para fortes valorizações das ações brasileiras. Refiro-me aos seguintes eventos:

Venho argumentando que, por trás do "rally" visto no preço das ações chinesas, há, dentre muitos fatores, um associado à rivalidade entre a China e a Índia. Explorei este tema em maiores detalhes neste vídeo que você pode acessar clicando aqui.

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