Como em quase tudo na vida, é tudo uma questão de perspectiva,
de apetite ao risco, e de paciência.
Esta afirmação pode levar o leitor a pensar que basta ter paciência
que eventualmente tudo irá dar certo. Mas, na verdade, a paciência aqui pode
também estar associada a uma tolerância necessária para se evitar situações que
podem se tornar extremamente complicadas.
Pensando no mercado de ações, não é difícil observar
comentaristas que apontam para um determinado momento indicando uma certa
obviedade na avaliação de uma determinada situação ou de um determinado ativo.
Quem nunca ouviu alguém falando que as ações da Petrobras a R$5,00 estavam de graça? Ou, que
o bitcoin a US$20.000 era uma insanidade!
O fato é que a cada momento há sempre uma montanha de
preocupações a ser superada. É a famosa expressão em inglês conhecida como "wall
of worry".
Pergunte ao seu comentarista favorito se a Petrobras a R$20,00
é uma pechincha! Pergunte se a cotação de 1,14 dólares para um euro é alta ou é
baixa! Pergunte se o preço do petróleo a US$65/barril é justo ou não!
Bem, como os valores mencionados acima estão próximos aos
preços atuais, não há como afirmar com veemência alguma em uma direção.
Qualquer ultra-convicção neste momento beira o charlatanismo, uma vez que habitamos
um mundo complexo que, por natureza, é altamente imprevisível.
Dito isso, estaria eu aqui afirmando não haver oportunidades
de ganhos no mercado? Estaria eu aqui afirmando que tudo é aleatório?
Definitivamente longe disso. Há oportunidades em diversas
frentes. Você pode atuar em busca de taxas no mercado através de operações com
opções. Você pode surfar ondas de valorização ou desvalorização de um ativo tomando
como base estratégias de momentum. Você pode também montar uma carteira de
longo prazo com base em uma estratégia com o foco em valor, seguindo os velhos
princípios de Buffet.
Bem, você pode fazer muita coisa no mercado, mas seja qual for
a trajetória escolhida, siga-a concebendo a possibilidade de que você poderá
estar errado em sua escolha. E se isso acontecer, regule o tamanho de sua
aposta para que um eventual erro não represente o fim de sua empreitada no
mercado de capitais.
Lembre-se que para atuar no mercado de capitais é necessário o
acesso a capitais. E, por isso mesmo, todo este esforço na acumulação de
capitais é algo que deve merecer o maior respeito.
Tudo isso pode parecer óbvio, mas é comum, dentro de um mesmo
ser, habitarem diversos "EUs". O "EU presente" que estrutura uma determinada
operação frequentemente demanda um comprometimento de tempo e de capital tamanho
que muitas vezes coloca em risco a conquista de diversos "EUs" do passado. Desenvolver
um sistema de gerenciamento de risco é algo sofisticado. Não é à toa que
instituições segregam tais funções - quem cuida do risco não é quem estrutura
uma operação.
Finalizo este texto, retomando o caráter dual discutido em seu
início, mas, de fato, explorando um tema de mercado.
Neste exato momento há quem acredite que a exuberância
econômica dos EUA atingiu seu ápice no fim do segundo trimestre deste ano. De
agora em diante, o caminho estaria aberto a uma desvalorização do dólar com
repercussões extremamente positivas para os mercados emergentes - inclusive para
o Brasil.
Por outro lado, há quem acredite justamente o oposto. Há quem
ache que o problema da Turquia irá, eventualmente, conduzir a Itália a romper com
a política do euro - algo que levaria a uma forte valorização do dólar e maior
aversão a emergentes.
Da minha parte, opto por uma estratégia mais reativa na qual
tento dançar conforme a música, mesmo que tal dança se dê com um certo atraso e
de uma forma, às vezes, desengonçada.
Marink Martins