Por que é tão importante estabelecer um preço para emissão de carbono? -- Highlights da entrevista com Jeffrey Currie, da Goldman Sachs

25/02/2021

Highlights de uma recente entrevista com Jeff Currie, estrategista chefe na área de commodities do Goldman Sachs

Por que é tão importante estabelecer um preço para a emissão de carbono?

Assumindo como premissa o objetivo de preservação do meio-ambiente se faz necessário ter uma precificação do carbono para que se viabilizem projetos de inovação voltados à solução de nossas questões ambientais.

Em um passado distante, o mundo combateu o problema da chuva ácida com uma política ambiental que estabeleceu um preço para a emissão de dióxido de enxofre.

De acordo com Jeff Currie existem duas formas de se estabelecer um preço para o carbono. É possível limitar a emissão do carbono, estabelecendo um CAP - determinando assim um preço através da oferta. Uma outra forma de se fazer isso é pelo lado da demanda através de uma tributação.

Por que o preço do petróleo é a melhor proteção para a inflação?

Sabe-se que os EUA mantêm uma balança comercial extremamente deficitária. Jeff Currie cita um exemplo em que afirma que uma boneca Barbie tem seu preço em dólares fortemente correlacionado com o preço da moeda sul coreana que, por sua vez, tem seu preço fortemente correlacionado com o preço do petróleo. Assim, não só o preço da boneca sofre uma forte influência da alta no preço do petróleo, mas boa parte dos produtos importados pelos EUA que tem origem asiática.

Jeff cita dois tipos de proteção: uma contra o que é chamado de "debasement" e outra contra a inflação. Ele complementa afirmando que o ouro é uma boa proteção contra um eventual "debasement" do dólar. Contudo, diz ele que nem sempre tal evento resulta em inflação. Quando o assunto é inflação, a melhor proteção, historicamente, tem sido o preço do petróleo.

Naturalmente, tudo isso está sujeito a mudanças na medida em que surgem inovações tecnológicas associadas a baterias e fontes de energia renováveis como a solar e a eólica.

Um pouco sobre palavras da moda: "carbonomics" e "green new deal".

Bem, essas expressões estão associadas ao movimento global ESG que estabelece critérios ambientais, sociais e de governança.

Um ponto interessante é que se vamos substituir combustíveis fósseis por um modelo eletrificado se faz necessário grandes investimentos em mineração de metais básicos como cobre, níquel e cobalto.

Hoje, duas empresas (Apple e TESLA) são responsáveis pelo consumo de 50% do mercado de baterias de ion-lítio. E olhe que, no ano passado, a TESLA produziu somente 400.000 veículos. Até o momento, existem somente 5 milhões de veículos elétricos no mundo, comparado com 1,3 bilhões de veículos que fazem uso da combustão interna.

Sendo assim, não há dúvidas que é necessário aumentar a produção de metais básicos necessários ao processo de eletrificação da economia global.

Contudo, o verbo minerar, seja ele associado a minério de ferro, os metais mencionados acima, ou mesmo, bitcoin, é algo que não é bem-visto no mundo ESG.

Por isso, Jeff Curry nos chama atenção novamente a respeito da necessidade de se estabelecer um preço para a emissão de carbono. Ele retoma o exemplo da chuva ácida nos anos 70 e diz que a solução do problema surgiu justamente após terem estabelecido um preço para a emissão de óxidos de enxofre. A solução tecnológica para o problema foi desenvolvida pela empresa alemã BASF que desenvolveu um conversor catalítico para os automóveis. 

Uma nova forma de precificação: "green copper" ou (cobre sustentável)

Uma vez estabelecido um preço para o carbono, passaremos a ver metais como o cobre precificado de acordo com o seu custo de extração. O cobre produzido no Chile sairá mais caro do que aquele produzido na África devido aos diferentes custos de extração associado a emissão de CO2.

Para finalizar, Jeff comenta sobre a criação de um índice de commodities que é "carbono neutral". Neste caso o preço seria acrescido do custo associado a emissão de carbono para se obter aquela commodity específica.

Marink Martins 

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