Por que há um declínio no número de IPOs nos EUA, apesar de todo o otimismo predominante nos mercados?

06/03/2018

Intuitivamente, espera-se que haja uma forte correlação entre o número de empresas fazendo IPOs e a proximidade de um "topo" nos mercados. Quem ainda não ouviu histórias sobre o lançamento de Merposa nos anos 70, ou mesmo de Pet.com no fim dos anos 90? E por que não, de UOL.com.br no "boom" dos IPOs brasileiros?

A mídia financeira, patrocinada por grandes empresas, busca sempre associar tais eventos a uma mensagem positiva; uma de prosperidade. Mas a verdade é que IPOs normalmente drenam liquidez dos mercados. Em novembro de 2017, tivemos um recuo no mercado local que muitos associaram ao fato de que investidores institucionais preparavam-se para os IPOs de dezembro (BR Distribuidora e outros).

Naturalmente, nem todo IPO é idêntico. Converse com alguém que comprou ações da Google em 2004, ou mesmo da Facebook em 2012, e sua impressão será outra. Tais IPOs funcionam como uma espécie de referência para uma atividade extremamente rentável para aqueles as coordenam.

O meu ponto aqui é que deveríamos estar vendo um maior número de IPOs nos EUA uma vez que estamos no nono ano de "bull market". Nos últimos dois anos da década de 90, o número de IPOs por lá era de aproximadamente 450 operações por ano. Já nos últimos três anos que precederam a crise de 2008, tal número era de 220 operações. Nos últimos anos, entretanto, temos um número bem menor. Em 2016, foram 110, enquanto em 2017, foram 160.

Será que a precificação dos mercados não estaria interessante o suficiente para que acionistas controladores cogitem vender suas ações nos mercados?

A resposta provavelmente é que muitos querem, porém, poucos podem.

Temos um mercado dominado pelo fenômeno "o vencedor leva tudo" e o que todos querem nos últimos anos é ser sócio de "big tech". Por isso, temos um mercado extremamente seletivo.

Está certo que escrevo sobre tal tema justamente na semana que teremos o "direct listing" das ações da Spotify e um IPO pequeno (US$500 milhões) da Dropbox. Mas, o que dizer de alguns IPOs como Snap e Blue Apron?

Não é o caso aqui de entrar em detalhes específicos destas empresas. Vivemos em um período não só marcado pelo fenômeno "o vencedor leva tudo" mas também por "desejos miméticos". Todos querem a mesma coisa. É a tese do já falecido filósofo René Girard a todo vapor. Isso é válido tanto para o desejo por Fentanil (crise dos opioides) como por determinados ETFs. Temos um mercado dominado por "momentum".

Mas é importante ressaltar que o mercado para novas emissões de ações parece estar muito mais fechado do que em outros períodos de euforia nos mercados.

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