Por que me mantenho cético quanto as perspectivas do IBOV?

20/09/2018

Confesso que durante o mês de agosto andei flertando com o otimismo devido a esperança de que estivéssemos entrando em um período de reversão à média onde os mercados emergentes iriam se beneficiar de um movimento de realocação global.

De maio de 2018, após ser deflagrada a guerra comercial sino-americana, a performance dos mercados se tornou extremamente divergente, com os ativos dos EUA registrando uma performance bem superior aquela registrada nos países emergentes.

O meu otimismo se foi na medida em que o diálogo entre os EUA e a China provou-se infrutífero nas últimas semanas.

Além disso, na economia local o primeiro ano de mandato de quem quer que seja nosso presidente será um de enorme desafio, provavelmente marcado por greves, e aumento de impostos que se farão necessários para que o país reverta seu assombroso déficit primário.

Ontem mesmo vazou na mídia detalhes do plano de Paulo Guedes que incluiria uma espécie de tributação sobre movimentações financeiras.

Sabemos que não há milagre. Se o PIB de uma nação pode ser calculado como o somatório do consumo das famílias (C), mais o consumo do governo (G), mais os investimentos em capital fixo (I), mais o resultado da balança comercial (X), não há como vislumbrar um 2019 extremamente positivo diante de uma forçada redução nas despesas do governo.

É bem verdade que o primeiro trimestre do segundo mandato de Dilma Rousseff foi marcado por uma forte alta no IBOV associada a um otimismo com o ímpeto reformista de Joaquim Levy. Contudo, como sabemos, tal otimismo não perdurou.

O comportamento do IBOV no primeiro trimestre de 2019 naturalmente irá depender de suas condições iniciais. O que acontecerá com o indicador de hoje até o fim deste ano?

Embora ninguém saiba a resposta a esta pergunta, me posiciono como um cético quanto as perspectivas do IBOV em grande parte devido a expectativa de uma iminente deterioração nos mercados globais, onde os dólares continuarão escassos afetando negativamente a performance dos países emergentes.

E quem diz isso é Arthur Kroeber, chefe de pesquisa da Gavekal. Em sua opinião, estamos diante de uma guerra de exaustão entre EUA e China, com repercussões de curto prazo que tendem a ser um pouco mais prejudiciais ao país asiático.

Há um consenso em torno de uma iminente desaceleração da economia chinesa e possível enfraquecimento adicional de sua moeda. Tudo isso é negativo para os mercados emergentes que, ao longo dos últimos 15 anos, tiveram seus ciclos econômicos fortemente correlacionados com os impulsos fiscais oriundos da China.

Louis Gave, fundador da Gavekal, diz que os emergentes são um "leveraged play" correlacionado a performance dos ativos chineses. A grande questão neste fim de 2018 é se a China irá embarcar em uma nova onda de estímulos fiscais. A Gavekal atribui uma baixa probabilidade para que isso ocorra no curto prazo.

Com o governo chinês reticente em prover estímulos fiscais neste atual momento, é provável que a IBOV continue oscilando em uma faixa mais ampla entre a mínima e a máxima registrada neste próprio ano.

Por tudo isso, reitero a minha visão de que os ativos de renda variável no Brasil devem ser encarados de forma tática; isto é, aproveite os momentos de euforia para reduzir suas posições e gerar liquidez para um eventual movimento de baixa.

Marink Martins 

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