Por trás da demanda por ativos antifrágeis

23/08/2019

De acordo com Louis-Vincent Gave alguns preços de mercado refletem uma espécie de pânico vivido por agentes. Mais especificamente, o fundador da Gavekal refere-se a enorme demanda que vem impulsionando os preços de ativos considerados antifrágeis como o ouro e os títulos soberanos de países desenvolvidos. Ambos registram expressivas valorizações nas últimas semanas.

Mas, o que estaria por trás de tal pânico?

De acordo com o Louis, o receio de que os protestos em Hong Kong caminhem para um desfecho similar ao ocorrido na Praça da Paz Celestial em 1989 é algo assustador para os mercados. Assim, temos hoje uma corrida por proteção que contribui para que o total de títulos soberanos com rendimento negativo supere a faixa de US$16 trilhões. Com alguns títulos rendendo -50 basis points, fica difícil argumentar a favor de um grau de antifragilidade para estes ativos.

Existem outros ativos considerados por alguns estrategistas como antifrágeis que, neste momento, apresentam uma precificação mais interessante. São eles: a libra esterlina, o iene, e ações em países cuja moeda esteja subvalorizada.

Embora a Gavekal não tenha mencionado o Brasil como uma alternativa, eu considero que, no curto prazo - pensando como um trader - as ações domésticas devem sim ser consideradas como uma alternativa global.

Vivemos em um momento onde as manchetes dos jornais apontam para uma enorme saída de recursos de investidores estrangeiros. Uma medida contestada por muitos especialistas locais devido as nuances associadas a este movimento. Sendo assim, o pessimismo local acaba sendo mais um fator para a crença em um cenário mais benigno no curto prazo.

Além disso, venho destacando por aqui que a Europa - enorme fonte de preocupação nos dias hoje - deverá embarcar em estímulos fiscais que poderá dar uma sustentação - mesmo que temporária - aos mercados.

Em suma, ainda estou preocupado com o sistema monetário global. Entretanto, acho que estamos diante de um momento onde os tecnocratas buscarão embarcar em mais uma rodada de estímulos fiscais.

Contudo, vale destacar que nos últimos 15 anos, foi a China quem salvou o mundo com seus enormes estímulos fiscais; algo que desta vez parece não ser o caso. A China sempre fez isso através da construção civil e seu foco no momento é não inflar ainda mais o que muitos chamam de uma aparente "bolha imobiliária".

Por tudo isso, é muito importante ser ágil neste mercado. Em minha opinião não é hora para buy & hold (compra de ações para o longo prazo). É hora de se montar estratégias bimodais (ou, em inglês, barbell).

Uma estratégia bimodal é uma na qual o investidor mantém uma parte significativa de sua liquidez em ativos extremamente seguros (tesouro Selic) e uma outra parte em ativos líquidos de alto risco - beta elevado. Neste caso, ciente da dificuldade de implementação de certas estratégias, advogo por estratégias de prazos mais curto, com uma mentalidade mais flexível, buscando evitar convicções.

Finalizo com duas expressões que gosto muito e que julgo serem pertinentes para o momento atual:

Caveat Emptor & Take No Prisoner

Um bom fim de semana a todos,

Marink Martins 

www.myvol.com.br