Precificado para a perfeição?

21/02/2024

Estaria o mercado de ações norte-americano precificado de forma a refletir um pouso suave perfeito? Penso que este é o questionamento do momento.

Um olhar nas previsões feitas por analistas sugere que o potencial de valorização das ações americanas -- como um todo -- é simplesmente limitado demais face ao risco presente nos mercados. Um exemplo do que busco transmitir pode ser visto no caso das ações da "queridinha do mercado" Nvidia, que divulgará no fim do dia seu resultado trimestral e suas perspectivas para a demanda por GPUs utilizadas em "datacenters" voltados ao uso da inteligência artificial. Veja na imagem abaixo que o preço alvo médio para ação -- estabelecido por centenas de analistas -- está na faixa dos 750 dólares por ação. Isso representa um potencial de alta inferior a 9%!

Você pode até achar o "upside" de 9% razoável. Entretanto, é importante entender que os contratos de opções em aberto associados às ações da Nvidia embutem uma expectativa de oscilação de 11% para cima ou para baixo como consequência do que está por vir em termos de novas informações sobre a empresa e o setor.

Mas não é só a Nvidia que me faz questionar a saúde do mercado de ações norte-americano. Vale mencionar alguns outros fatores importantes:

1. Atualmente o S&P 500 negocia a um múltiplo de P/L de 22,30x em relação ao lucro esperado para 2023. Um múltiplo de 20,64x em relação ao esperado para 2024 e 19,43x em relação ao lucro esperado para 2025. Simplesmente esticado demais!!! O normal seria uns 15% abaixo destes níveis.

2. Das 500 empresas que compõem o índice, o crescimento da lucratividade é oriundo das 10 maiores. As 490 empresas menores, como um todo, projetam uma queda na lucratividade. Em outras palavras, temos um mercado extremamente concentrado dependente de um pequeno grupo de empresas.

3. Olhando para a renda fixa, os diferenciais de rendimentos dos títulos emitidos por empresas especulativas ("high yield") em relação ao rendimento dos "treasuries" está muito baixo em termos históricos.

Eu poderia ir adiante e mencionar outros sintomas preocupantes. No entanto, do ponto de vista técnico e de curto prazo, me preocupa o fato de que a volatilidade implícita associada aos contratos de opções do índice Nasdaq 100 ("VXN") vem subindo de forma mais expressiva, parecendo antecipar uma queda mais brusca neste índice.

Por tudo isso, eu que venho nestes comentários falando sobre oportunidades de convergência entre o IBOV e o S&P 500, me questiono se, no curtíssimo prazo, não seria o caso de aumentar uma aposta "short" no S&P 500 através do micro contrato futuro do índice negociado na B3 (WSPs). A ideia aqui é te convidar a uma reflexão e não fazer uma recomendação em relação ao ativo. Às vezes, simplesmente "ficar de fora" pode ser uma opção mais interessante.

O resultado da Nvidia nesta tarde representará algo próximo ao fim da temporada de divulgação de resultados das empresas do S&P 500. De acordo com a empresa FactSet, os resultados norte-americanos superaram as expectativas, mas não entusiasmaram. Já por aqui, a nossa temporada de divulgação de resultados está ganhando tração e deverá surpreender positivamente.

Marink Martins

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