Quando o dólar SPOT fica acima do dólar futuro

29/08/2018

Em situações de estresse cambial como a que vivemos no atual momento, não é raro a ocorrência de um fenômeno no qual o preço do dólar SPOT - o dólar comercial à vista - fique acima do dólar futuro.

Tal situação ocorreu na semana passada e foi muito comum durante os meses que antecederam a eleição de Lula em 2002.

O que acontece com os mercados para justificar tal comportamento?

Para entendermos tal situação, é necessário que compreendamos o que é o cupom cambial. Trata-se da taxa de juros em dólares no Brasil. Mas, como assim?

Explicando melhor: Se assumirmos que a taxa de juros pré-fixada para um 1 ano no Brasil esteja em 10%, e que a diferença entre o dólar de hoje e o dólar futuro para 1 ano esteja em 6%, podemos dizer que o cupom cambial está em 4%.

Em outras palavras, o cupom cambial reflete o rendimento de uma aplicação em reais subtraído da projeção de desvalorização na moeda.

A fórmula, colocada de uma forma bem simples, é a seguinte:

Observe que, em situações de estresse cambial onde há uma enorme demanda por dólares no Brasil, o custo do dinheiro em dólares (cupom cambial) sobe. Isso pode ocorrer por diversas razões.

Em alguns casos, empresas expostas a contratos vinculados a variação cambial são forçadas a comprar dólares no mercado SPOT. De forma análoga, pessoas físicas, buscando proteção, fazem o mesmo.

Com a taxa de juros em reais em níveis relativamente baixos, ocorre a situação peculiar de termos os juros em dólares acima dos juros em reais. Vale ressaltar que, quando isso ocorre, os prazos para tais rendimentos tendem a ser curtos.

Em 2002, o receio do mercado diante do crescimento de Lula nas pesquisas provocou uma enorme distorção no mercado, com a taxa de juros em dólares no mercado local disparando. Com isso, o preço futuro do dólar chegou a negociar com um desconto expressivo em relação ao preço SPOT.

Hoje, com reservas cambiais significativas, arrisco-me a dizer que tal situação tende a ser rara, pois o BC está pronto para injetar liquidez nos mercados em caso de escassez da moeda americana.

Marink Martins

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