Quando será o "Black Wednesday" italiano?
Ontem estive assistindo a um documentário sobre a desvalorização da libra esterlina ocorrida em 1992 em uma quarta-feira que ficou conhecida como Black Wednesday.
Desta data muito se comenta sobre o bilhão de dólares lucrado por Soros, Druckenmiller e companhia.
Mas o que mais me impressionou - talvez por uma certa ignorância sobre os detalhes deste evento - é que a Inglaterra ao embarcar no sistema monetário conhecido como ERM (Exchange Rate Mechanism implementado na Europa em 1979), perdeu graus de liberdade de forma análoga ao que observamos hoje em dia na Itália.
Na ocasião, me parece que os ingleses enfrentavam uma certa estagflação e morriam de inveja do controle inflacionário imposto pelo Bundesbank da Alemanha. Ao vincular sua moeda ao marco alemão, venderam a alma ao diabo tentando ser o que não eram... Os italianos eram afligidos pelos mesmos desejos.
Coincidência ou não, os alemães enfrentavam uma inflação resultante de enormes gastos fiscais com o processo de unificação. O BC alemão, preocupado com seu único mandato - o controle da inflação - não hesitou e propôs uma elevação na taxa básica de juros.
Antes disso, entretanto, em uma reunião realizada em Bath, na Inglaterra, no dia 4/9/92, há um relato de que o chanceler britânico Norman Lamont foi indiscreto e inconveniente ao pressionar o presidente do Bundesbank, Helmut Schlesinger, a cortar a taxa básica de juros na Alemanha, na esperança de manter uma maior atratividade para a libra esterlina.
Mas, como diz meu amigo holandês: "alemão não é sangue-bão!!! rsrs"
Schlesinger disse à Lamont:
Bem, os alemães elevaram a taxa de juros e a Inglaterra não teve outra alternativa. Saiu do ERM e sua moeda caiu do piso de 2,71 marcos por libra para o patamar de 2,20.
Passado alguns anos, alguns argumentam que o ocorrido foi a melhor coisa que poderia ter acontecido aos ingleses.
E voltando aos dias de hoje...
Após 27 anos, temos os 3 países que protagonizaram o drama de 92 de volta em evidência.
Será que há união na Europa capaz de promover o sincronismo necessário para que a região consiga navegar com uma moeda única (o euro)?
Desconfio que não. Mas aqui sempre me volto para as opiniões de Chales Gave, de Franck Vallois e outros que entendem do assunto.
Se tudo ocorrer como vem prevendo o grande Charles Gave, é possível que os italianos, desta vez, larguem uma bomba monetária na Alemanha, deixando seu sistema bancário praticamente quebrado - se é que já não está!
E se isso eventualmente ocorrer em uma quarta-feira, tal como ocorreu no "Black Wednesday" inglês, poderá representar também, a posteriori, uma espécie de ressurreição da economia italiana! Aguardemos!
Marink Martins