Regra de bolso para saber como agir nos mercados
Em caso de excesso de liquidez, compre ações! (more Money than fools)
Em caso de excesso de idiotas, vá para a renda fixa! (more fools than Money)
Convenhamos que, em termos de máxima ou axiomas de mercado, esta não perde para nenhuma outra. Louis Vincent-Gave, CEO da Gavekal, não deixa passar um encontro sem mencionar tal máxima uma vez proclamada por um de seus primeiros clientes, o gestor Beat Notz da gestora suíça Notz Stucki.
Como toda máxima, entretanto, carrega consigo o perigoso jogo da síntese. Utilizada em ambientes de elevada complexidade como os mercados, tais máximas quando encaradas com seriedade, embora divertidas, podem levar investidores a decisões controversas.
Exploremos melhor a máxima acima.
Poucos duvidariam que habitamos um mundo de liquidez excessiva. Afinal, os principais bancos centrais estão há anos comprando títulos soberanos, inundando os mercados com dinheiro barato. Só o Banco Central Europeu (BCE) vem comprando 60 bilhões de euros a cada mês. Consequentemente, ações do setor de tecnologia norte-americano vem subindo de forma contínua, e algumas como a Amazon, a Netflix, a Tesla e a Nvidia negociam a múltiplos de rentabilidade aparentemente exorbitantes. Neste caso, podemos concluir que há mais dinheiro (liquidez) do que idiotas; consequentemente, temos um dos mais longos "bull markets" globais da história.
O problema aqui é que este longo "bull market" já mostra sinais de cansaço, de estar mais próximo ao fim. "Como assim?", perguntaria o mais otimista. Ora, se o grande catalizador da alta foi o excesso de liquidez, por que não achar que uma eventual remoção de tal excesso não irá causar um efeito oposto?
Bem, o FED (banco central americano) está sempre à frente de seus colegas e já vem antecipando tal movimento. A grande dúvida, porém, é com relação ao programa europeu. Nesta próxima quinta-feira, o BCE deverá sinalizar ao mercado "se" e "como" pretende remover seu estímulo monetário mensal. O mercado especula sobre uma redução nas compras mensais de 60 bilhões de euros para 30 bilhões já em janeiro de 2018, em um programa que deverá se alongar por 9 meses, até setembro de 2018. Caso isso, de fato, ocorra, é provável vermos uma valorização do euro frente ao dólar, o que colocaria uma pressão ainda maior nas economias periféricas do velho mundo.
A remoção de tal excesso de liquidez poderá deixar o mundo com menos dinheiro e mais idiotas, uma condição favorável a migração para a renda fixa conforme o receituário acima.
Já no Brasil, a situação parece ser bem diferente. Além de estarmos no início de um ciclo de maior liquidez (queda na Selic), o investidor pessoa física está de fora, com um baixo percentual de seu patrimônio alocado em renda variável;uma descrição condizente com um cenário de "mais dinheiro do que idiotas", favorável a migração para renda variável conforme o receituário acima.
Sendo assim, temos um ambiente propício ao seguinte long/short: compre IBOV, venda S&P 500; ou mesmo, compre EWZ (etf Brazil), venda ACWI (etf global). Só que não! Julgo imprudente acreditar em uma "outperformance" canarinha diante de enormes fragilidades fiscais e políticas de nosso país. Na minha opinião, é pouco provável vermos um descolamento do IBOV dos principais índices em um cenário de aversão a risco.
Vou explorar tais temas em mais detalhes em um encontro organizado pela MyCAP amanhã no espaço paulista, em São Paulo, as 18:30.
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Marink Martins, CNPI