Salvo pelo "Plunge Protection Team" (PPT)

11/01/2022

A tarde de segunda-feira começara bem para aquele que carregava uma posição vendida em ativos de longa duração norte-americanos. O S&P 500 caía uns 100 pontos, ou aproximadamente 2%, e a sensação era de que, a qualquer momento, uma espécie de pânico poderia se instaurar e levar o principal índice global para uma queda bem mais expressiva. De alguma forma, era possível sentir na voz do comentarista da CNBC a inquietude dos agentes diante de claros sinais de que a autoridade monetária dos EUA -- o FED -- se prepara para um ciclo de aumentos na taxa básica que deverá levá-la a um patamar possivelmente superior a 1%. Até que, de forma não tão surpreendente assim, surge o "Plunge Protection Team (PPT)" para reverter tudo. E não é que eles conseguiram!

Entenda o PPT como um conjunto de esforços feito pela mídia dos EUA -- em particular a CNBC -- para resgatar o mercado em momentos de adversidade. Ao leitor pode até parecer mania de perseguição de trader, mas confie em mim: o PPT existe e é bem articulado. Para que você entenda melhor, vou descrever o que ocorreu durante o programa "Half Time Report" da CNBC em que, de fato, ocorreu a virada no mercado sinalizada no gráfico acima.

Conforme mencionei, o mercado estava pesado. Alguns dos comentaristas do programa se mostravam preocupados com o mercado e com seus portfolios. Discutia-se se o ciclo do "buy the dip" (caiu/comprou) havia ficado para trás e se era hora de entrarmos em um outro ciclo: o do "sell the rip" (subiu/vendeu). O âncora do programa, Scott Wapner, como de praxe, atuava como advogado do diabo, questionando as teses apresentadas. Eis que, do nada, Scott interrompe uma discussão acalorada entre os comentaristas para dizer que o estrategista do JP Morgan, Marko Kolanovic -- que nem estava presente no programa -- acabava de recomendar aos investidores que aproveitassem os preços baixos das ações e promovessem o já cansativo "buy the dip". Minutos depois, já em um outro segmento do mesmo programa, veio a informação de que o estrategista da FundStrat, Tom Lee -- que também não estava presente no programa --, havia indicado naquela hora que seus clientes fizessem o mesmo. Não demorou muito, e o S&P 500 logo subiu para 4.620.

Termina o programa Half Time Report na CNBC e, logo em seguida, entra uma entrevista exclusiva feita pela jornalista Bertha Coombs com ninguém menos do que o patrão de Marko Kolanovic, o respeitadíssimo Jamie Dimon, CEO do Banco JP Morgan. Ciente das preocupações do mercado, Dimon inicialmente parecia querer jogar lenha na fogueira ao afirmar que o FED tem mais é que elevar os juros mesmo: quem sabe 4x, complementou o veterano banqueiro. Só que seu bate papo, como sempre, foi no sentido de mostrar aos investidores que o país está mais do que preparado para o arrocho. Afinal, trata-se dos Estados Unidos da América, terra da inovação, onde tudo é possível...

No fim do blá blá blá de Dimon, o S&P 500 já estava próximo dos 4.650 pontos e o que parecia apontar para um cenário catastrófico, de repente, já estava com uma tremenda cara de zero a zero. Mais um dia de vitória do PPT -- um time capaz de promover viradas homéricas nos mercados.

E nesta terça-feira teremos o depoimento de Jerome Powell no Congresso dos EUA. Em um país onde especular na bolsa é atualmente um dos esportes preferidos do cidadão, pode ter certeza que Powell é um dos membros do PPT. Por isso, é bem provável que "os vendidos" ficarão um pouco mais tímidos; pelo menos na parte da manhã.

Marink Martins

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