Se preparando para o verdadeiro Bang Bang

24/08/2020

A semana se inicia com o otimismo do novo pacote do governo a ser anunciado nesta terça-feira - denominado por Paulo Guedes como Pacote Big Bang. Fala-se em novos investimentos, cortes de despesas, privatizações e muito mais. Tudo isso em um momento de aparente trégua nos mercados internacionais, com o índice S&P 500 fazendo novas máximas no ano.

Os mais veteranos deste mercado hão de se lembrar de um tal de Pacote 51 -- lançado em novembro de 1997 por Fernando Henrique Cardoso -- como forma de turbinar a economia brasileira que sofria os impactos da crise asiática. Como ocorre de forma frequente, tal pacote contribuiu para uma alta nos mercados que teve uma duração de alguns meses, até que os efeitos positivos perdessem espaço para uma maior frustração dos agentes financeiros.

Não há dúvidas de que vivemos um momento peculiar. Neste fim de semana, o Wall Street Journal publicou uma reportagem ilustrando que o endividamento dos governos de países desenvolvidos está em níveis similares aos registrados durante a segunda guerra mundial. Contudo, a reportagem deixa claro que não devemos esperar por uma reação dos mercados que seja similar àquela testemunhada nas décadas subsequentes a guerra. Isso porque fatores demográficos e outros associados a produtividade, que muito contribuíram para o crescimento do consumo e da lucratividade das empresas globais, simplesmente já não estão mais presentes.

Além disso, me chamou atenção também diversas reportagens enfatizando que a nova máxima registrada nas bolsas não reflete, de forma alguma, o que vem ocorrendo na economia real. Muito pelo contrário. O que observamos é um mercado cada vez mais concentrado, dependente da liderança das 5 maiores empresas de tecnologia: Apple, Microsoft, Amazon, Google e Facebook.

A Apple, que agora é uma empresa de 2 trilhões de dólares, ganhou mais de 100 bilhões de dólares em valor de mercado na última sexta-feira. A alta no preço de suas ações foi responsável pela alta nos 3 principais índices de bolsa nos EUA - O DJIA, o S&P 500, e o Nasdaq 100.

Curiosamente, a alta no preço das ações da Apple foi acompanhada também de uma expressiva alta na volatilidade implícita associada aos contratos de opções vinculados as ações da empresa. Tal VOL subiu para níveis superiores a 45%. Isto em um mercado onde o VIX está por volta de 21%.

Sendo assim -- honrando o título escolhido para este comentário - convido o investidor a se preparar para semanas mais voláteis. A própria dinâmica das ações da Apple já nos sinaliza isso. Além destes efeitos associados a indicadores de mercados, teremos novidades na política (eleições nos EUA), na ciência (vacinas), e em outras frentes determinantes, como a tributária.

Marink Martins 

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