Como advogo que habitamos a vizinhança da complexidade, a
resposta mais contundente que me permito dar a pergunta acima é: pouco
provável.
Vou buscar aqui justificar o meu ceticismo. Ao longo dos
últimos dias os mercados globais vêm desfrutando de uma trégua no que diz
respeito a diversas fontes de preocupações. De repente, os agentes parecem ter
esquecidos das tensões comerciais entre China e EUA, da possibilidade de um
retorno da inflação e da tão discutida exaustão relacionada ao setor de
tecnologia norte-americano.
Como venho relatando por aqui, estamos em meio a um processo
de divulgação de resultados nos EUA marcado por uma expressiva elevação nos
lucros das diversas empresas que compõem o índice S&P 500. É um período de "peak
earnings" ocorrendo em uma época onde muitos contribuintes estão mais
preocupados com o envio de suas respectivas declarações de imposto de renda.
O fato é que indicadores de volatilidade se comprimiram
passando uma imagem de calmaria que tende a ser momentânea.
Ontem, Donald Trump sinalizou ao mercado que um novo acordo
para o NAFTA (o acordo de livre comércio da América do Norte) deverá ser anunciado
em breve. Especialistas atribuem alta probabilidade de que o presidente
utilizará tal anúncio como um instrumento de marketing para reforçar sua fama
de um "master" das negociações.
Trump já está de olho nas eleições no congresso que ocorrerão
em novembro deste ano. Manter uma liderança republicana é algo de suma importância
a seu governo.
Diante disso tudo, a razão pela qual julgo ser momentânea tal
calmaria está mais relacionado a alguns dados mais técnicos. São eles:
- O achatamento da curva de juros norte-americana - Membros do Fed
vem batendo na tecla da normalização dos juros, contribuindo para que os juros
de curto prazo subam em um ritmo mais elevado do que os juros de longo prazo.
Com isso, a diferença entre as taxas de 10 anos e 2 anos está no menor nível
desde o início da década passada. Tal configuração é negativa para os mercados
e indica que o mercado trabalha com uma expectativa de desaquecimento da
economia nos próximos meses.
- O preço do petróleo rompendo os US$70. Com o preço
do "brent" já acima deste patamar, tal evento passa a representar uma espécie de
imposto global. Embora seus impactos econômicos levem um certo tempo para se
materializar, eles afetam a atividade econômica de forma negativa. Otimistas
argumentarão o contrário, mas uma análise mais cuidadosa da curva de juros
futuro para o preço do petróleo só reforça a tese de que este aumento tende a
ser momentâneo.
Dito tudo isso, estamos em meio a uma fase de consolidação nos mercados com um saudável "balançar da roseira". Por razões de cunho macroeconômico global há uma elevada probabilidade de que a temática de uma elevada volatilidade seja dominante ao longo do ano. Por isso, prossiga com cautela e "caveat emptor" (cuidado comprador!)
Marink Martins