Será que retornamos a "zona de cachinhos dourados" ("goldilocks")?

19/04/2018

No gráfico acima, vemos que o indicador de "momentum" do mercado (ETF: MTUM) sinaliza um certo retorno ao comportamento otimista que marcou a segunda metade do ano de 2017.

Como advogo que habitamos a vizinhança da complexidade, a resposta mais contundente que me permito dar a pergunta acima é: pouco provável.

Vou buscar aqui justificar o meu ceticismo. Ao longo dos últimos dias os mercados globais vêm desfrutando de uma trégua no que diz respeito a diversas fontes de preocupações. De repente, os agentes parecem ter esquecidos das tensões comerciais entre China e EUA, da possibilidade de um retorno da inflação e da tão discutida exaustão relacionada ao setor de tecnologia norte-americano.

Como venho relatando por aqui, estamos em meio a um processo de divulgação de resultados nos EUA marcado por uma expressiva elevação nos lucros das diversas empresas que compõem o índice S&P 500. É um período de "peak earnings" ocorrendo em uma época onde muitos contribuintes estão mais preocupados com o envio de suas respectivas declarações de imposto de renda.

O fato é que indicadores de volatilidade se comprimiram passando uma imagem de calmaria que tende a ser momentânea.

Ontem, Donald Trump sinalizou ao mercado que um novo acordo para o NAFTA (o acordo de livre comércio da América do Norte) deverá ser anunciado em breve. Especialistas atribuem alta probabilidade de que o presidente utilizará tal anúncio como um instrumento de marketing para reforçar sua fama de um "master" das negociações.

Trump já está de olho nas eleições no congresso que ocorrerão em novembro deste ano. Manter uma liderança republicana é algo de suma importância a seu governo.

Diante disso tudo, a razão pela qual julgo ser momentânea tal calmaria está mais relacionado a alguns dados mais técnicos. São eles:

  • O achatamento da curva de juros norte-americana - Membros do Fed vem batendo na tecla da normalização dos juros, contribuindo para que os juros de curto prazo subam em um ritmo mais elevado do que os juros de longo prazo. Com isso, a diferença entre as taxas de 10 anos e 2 anos está no menor nível desde o início da década passada. Tal configuração é negativa para os mercados e indica que o mercado trabalha com uma expectativa de desaquecimento da economia nos próximos meses.
  • O preço do petróleo rompendo os US$70. Com o preço do "brent" já acima deste patamar, tal evento passa a representar uma espécie de imposto global. Embora seus impactos econômicos levem um certo tempo para se materializar, eles afetam a atividade econômica de forma negativa. Otimistas argumentarão o contrário, mas uma análise mais cuidadosa da curva de juros futuro para o preço do petróleo só reforça a tese de que este aumento tende a ser momentâneo.

Dito tudo isso, estamos em meio a uma fase de consolidação nos mercados com um saudável "balançar da roseira". Por razões de cunho macroeconômico global há uma elevada probabilidade de que a temática de uma elevada volatilidade seja dominante ao longo do ano. Por isso, prossiga com cautela e "caveat emptor" (cuidado comprador!)

Marink Martins

Leia o que há de novo essa semana

Os últimos dois anos foram sensacionais para o investidor focado em ações de empresas norte-americanas. Abaixo, temos um gráfico de "Trailing Real Returns" do S&P 500 desde 1960. Este gráfico nos mostra o retorno real do índice em janelas de 2 anos.

Ainda que o momento atual não seja, nem de perto, um associado a uma crise financeira clássica, os últimos eventos deixaram muitos investidores "machucados". Afinal, no último mês tivemos 3 eventos que historicamente foram catalisadores para fortes valorizações das ações brasileiras. Refiro-me aos seguintes eventos:

Venho argumentando que, por trás do "rally" visto no preço das ações chinesas, há, dentre muitos fatores, um associado à rivalidade entre a China e a Índia. Explorei este tema em maiores detalhes neste vídeo que você pode acessar clicando aqui.

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